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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

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Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

27 de Outubro, 2025

Vida de Aldeia

Inês R.

Um concerto na capital é um evento para o qual se tem de planear com alguma antecedência, é verdade. Há que pedir para sair mais cedo do trabalho e tirar a manhã seguinte de férias; arranjar quarto para passar a noite, não muito longe do recinto; e ainda somar os custos com combustível (ou transportes públicos) e alimentação ao dos bilhetes. 

Mas não há nada que pague a vidinha de aldeia.

Onde conduzes com a mão que não tens de levantar a cada 500 metros, a caminho da tua casa de família, na rua onde sempre moraste, e aonde chegas ainda a tempo de regar a horta e trocar dois dedos de conversa com o Zé que ficou de te emprestar as redes para a azeitona depois de acabar a apanha dele. 

Onde bebes o teu café da manhã no mesmo tasco onde paras depois de despegar para beber uma mini com a malta e ficas a saber que a Sónia do Manel está de bebé e a dona Arminda tem cá o filho da França.

É também onde as tuas falhas (muito mais que os teus sucessos) chegam aos ouvidos da tua mãe antes de teres a possibilidade de lhas contar e uma janela aberta tanto traz cheiro de flores e terra molhada quanto de queimadas e gado.

Onde vês a filha da vizinha levar uma Sagrada Família pela mão, para a deixar na próxima casa da lista; de onde sairá dois dias depois - de caixa de esmolas mais pesada -, a caminho de outra sala de estar para abençoar, e tu soltas um supiro porque nada muda. Mas aquela miúda - de certo, deserta para ir ao Bolinho no primeiro de novembro - vai crescer, perceber que há mais vida para além da missa e deixar a religião, porque nada muda. E ainda bem.

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