Quem Me Dera Ser Bactéria
Passar os meses - ou minutos - da minha vida abençoadamente ignorante da minha própria existência e sem responsabilidades de maior.
Bastar-me-ia ser uma bactéria comum, um coco, um bacilo; nunca tive pretenções de ser melhor que ninguém e nunca aspiraria a ser super-bactéria.
Se o ponto alto da minha existência fosse ser recolhida de um iogurte para ser observada ao microscópio por miúdos de 15 anos num laboratório de Biologia, então, morreria uma bactéria feliz.
E a vida numa comunidade silenciosa sempre me pareceu muito bem. Partilhar casa com alguns milhões de outros seres unicelulares iguaizinhos a mim, com a mesma completa ausência de emoções e o mesmo estilo de pentear os pilis e os flagelos, seria a minha versão de Céu aqui na Terra.
Não ter contas para pagar, nem chatices no trabalho para resolver, nem ter de assistir à degradação da empatia humana no mundo digital e do resto todo no mundo real. Essencialmente, não ter de lidar com pessoas.
A não ser para lhes causar uma ou outra infeçãozinha aqui e ali, claro.
Ah, quem me dera ser bactéria...