Preocupada Profissional
Eu preocupo-me. Com o futuro do planeta, com a sociedade do meu país, com as economias cá de casa, com o que vou vestir amanhã, com aquela dor de cabeça estranha, e, principalmente, com aquilo que não aconteceu, mas pode vir a acontecer.
Chorar sobre o leite que ainda não se derramou é uma especialidade que herdei da minha mãe e que tornei só minha. Se sei que não é saudável? Sim, com todos os ossos deste meu corpinho ligeiramente hipocondríaco. Se consigo fazer alguma coisa para o evitar? Às vezes. Mas conta na mesma, certo?
Na verdade, há vários anos que ando a trabalhar para melhorar esta particularidadezinha da minha pessoa (perturbação obsessivo-compulsiva incluida), mas não é algo de que me possa curar, antes algo que posso tentar controlar de forma a não me consumir a existência toda, e, felizmente, com alguns bons resultados.
Acontece que nos momentos mais difíceis da vida, torna-se, como direi, mais difícil negar passagem aos pensamentos intrusivos; aqueles que chegam sem avisar e se alojam na mente sem data para saír, sabem? Que nos garantem que aquele exame vai trazer más notícias, que aquela viagem vai acabar em tragédia, e que aquelas colegas de trabalho estavam mesmo a rir-se de nós, ao pé da máquina do café.
E atenção que sermos preocupados não é necessáriamente mau. Convém sabermos que as nossas ações têm consequências, que cumprir os limites de velocidade evita acidentes, e que uma mentirinha branca é preferível à "sinceridade brutal".
Ainda assim, deixar que o medo de viver nos governe a vida não é, certamente, a solução, e eu estou preparadíssima para tentar, mesmo afincadamente, quem sabe, a posibilidade de, talvez, o conseguir evitar.