Mulher Local Passa-se da Boina
Foi pelas 16:42 de segunda-feira que Maria (nome, suficientemente, genérico para poder ser qualquer uma de nós), depois de ouvir que "as mulheres têm menos resistência à dor" de um comercial de material informático que estava só de passagem, "perdeu a cabeça".
Segundo o testemunho de vários colegas de trabalho homens, a mulher teria passado todo o dia "com cara de que todos lhe devem e ninguém lhe paga" e acabado, "como já estavam todos à espera," a chorar na casa de banho.
"Devia 'tar com o período, ou quê. Ia-me arrancando a cabeça quando lhe disse para sorrir mais," relatou um colega de gabinete, que nos facultou o nome completo e número de segurança social, mas que a nossa redação preferiu manter no anonimato.
Gravações do circuito interno de video-vigilância da empresa deixaram perceber que o dia até começou bem para aquela rececionista de 34 anos. É possível vê-la a partilhar um vídeo "engraçado" com uma colega, junto à entrada do edifício, momentos antes do chefe de departamento as abordar com uma mão no ombro de cada uma e acabar, de imediato, com a boa disposição do grupo.
Mas, a partir dali, os relatos do dia são muitos e variados.
Segundo (todas) as mulheres que assistiram ao momento, Maria apenas se levantou, repentinamente, da cadeira, dirigiu-se a passos largos para a casa de banho, e tirou alguns minutos para libertar a tensão e, depois, para se recompor, antes de regressar ao seu posto de trabalho.
Ainda assim, uma fonte próxima do departamento de recursos humanos da empresa garantiu-nos que a colaboradora ficou "debaixo de olho," o que não o surpreendeu porque, segundo o mesmo, "tem de haver ali qualquer coisa que não bate bem". Questionado sobre o que queria dizer com aquela afirmação, não hesitou em apontar o estado civil da colega como a sua principal razão: "Se nenhum homem a quer, faça você as contas..."
Assim que a nossa reporter apontou o quão tendenciosa tinha sido a sua observação, este acusou-a de ter ficado "histérica" e de "não saber ouvir uma piada," tendo a entrevista terminado por ali.
À hora de fecho da nossa edição, tínhamos, já, recebido centenas de contatos de homens que conheciam, trabalhavam ou tinham trabalhado, frequentavam o mesmo ginásio, faziam o mesmo percurso para o trabalho, já a tinham visto "por aí," ou que "conhecem bem gajas como Maria," a querer colaborar com a investigação. Todos os pedidos foram educadamente rejeitados.