Maria, 45, Solteira
“Nasci em mil nove e setenta e cinco, tendo visitado as urgências pela primeira vez após uma queda de um aquecedor a óleo, ao qual subi para alcançar uma boneca, que nem era a minha preferida. Aos treze…”
Seria mais ou menos aqui que a pessoa atrás do balcão da farmácia lhe interrompia o discurso para perguntar se “vem levantar algum medicamento” (o “para a cabeça” fica por dizer).
Não, caro leitor, não é necessário contar a sua história de vida só para comprar umas pastilhas para a garganta, mas é, contudo, importante divulgar certas informações à malta da bata branca para que não quineis da cura (mas da doença, tal como o senhor designou).
Desde recomendar um xarope para a tosse sem açúcar a um utente diabético até desaconselhar um anti-inflamatório oral a um hipertenso, os doutores da farmácia gostam de saber de todas as patologias que vos aflijam, tanto o corpo como a mente, para melhor os servir (e evitar a todo o custo matar um, é claro).
E se é comum ouvir um utente ao balcão advertir o farmacêutico para a sua alergia à penicilina, à maioria das pessoas nem lhe ocorre mencionar que está a tomar um medicamento “p'rós nervos” quando pede alguma coisa boa para uma gripe ou constipação, “mas p’ra acabar com ela, veja lá isso”.
Mas, a verdade, é que há certas interações, que podem ser potencialmente fatais, entre os medicamentos vulgarmente conhecidos como de venda livre e a medicação que tomamos diariamente.
Por isso, não, não se acanhe de contar (quase) tudo aos profissionais de saúde a quem pede um conselho. Qualquer um dos meus (ex) colegas vai ficar agradecido por saber de uma qualquer doença crónica ou problema de saúde que tenha antes de lhe recomendar o que quer que seja.
Sim, mesmo que seja só uma pomada para as hemorroidas.
Imagem: By G.dallorto - Own work, Attribution, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=29016738 Byzantine liturgical parchement scroll, 13th century. Exhibited in the Byzantine and Christian Museum in Athens