História de uma Calinada
Quem nunca cometeu uma pequena gafe perante uma prescrição médica escrita à mão que atire a primeira pedra.
Era a primeira vez que eu via aquele nome comercial (sem principio ativo, note-se) e o fato de ser um injectável fez-me, imediatamente, aconselhar uma ida ao gabinete de enfermagem; o que não recebeu sequer um aceno de cabeça e eu fiquei ligeiramente preocupada: há malta que não tem tempo nem para morrer.
Mas foi quando o dito remédio chegou à farmácia no dia seguinte que eu percebi a falta de reacção do fulano. Era um injectável, certo, mas de aplicação local, mais propriamente num dos corpos cavernosos do órgão genital masculino.
Era um medicamento utilizado para a disfunção eréctil e eu tinha sugerido ao homem ir à senhora enfermeira levar a pica…
Felizmente, não fui eu que o atendi da segunda vez (já que não ia conseguir controlar a cor da minha cara…) e nunca mais me lembro de o ter visto na farmácia – o que é compreensível, tínhamos um utente do comprimido azul que não morava sequer no concelho e que fazia a viagem regularmente apenas e só para levantar aquela receita.
Vendi mais uns quantos durante os meus anos de serviço – até fiquei a saber que havia mais que uma dosagem – mas passei a deixar que a montanha fosse a Maomé; digo que fossem os utentes a colocar as questões, se as tivessem.
E, certo, foi um momento menos bom, mas não trouxe mal nenhum ao Mundo, e quando se está atrás de um balcão de farmácia, o risco de embaraço será o menos preocupante.