Compras, Cabeleireiro e Um Aborto
Não, nenhuma mulher decide ir fazer um aborto só porque tem um buraquinho entre a ida ao supermercado e a marcação das unhas.
Será para a maioria destas mulheres, senão para todas, a decisão mais difícil que terão de tomar na sua vida e uma que nunca vão querer repetir.
Mas negar o acesso à interrupção voluntária da gravidez não resolve o problema, muito pelo contrário, uma vez que descrimina desproporcionalmente mulheres que já se encontram em situações mais desfavorecidas.
E na verdade, em Portugal, desde que se despenalizou o aborto, todos os anos (com a previsível exceção dos primeiros) são realizadas menos intervenções destas que no ano anterior. (Fonte 1, Fonte 2)
Consequência do aconselhamento feito pelo pessoal médico da especialidade e do bom trabalho feito nos nossos serviços de saúde, de onde muitas mulheres saem com uma palavra amiga e uma prescrição para um contraceptivo oral.
Mas, ao que parece, do outro lado do grande lago a que chamamos Atlântico, surgiram rumores (demasiado legítimos para descartar) de que os juízes do Supremo Tribunal estão “a isto” de revogar a lei (Roe v Wade) que desde os anos 70 garante o acesso ao aborto para todas as mulheres Americanas e eu, enquanto mulher (apesar de Portuguesa), não posso deixar de sentir por todas elas. (Fonte 3)
Infelizmente, e apesar da lei federal, existem leis extremamente restritivas em muitos dos estados Americanos que já tornam quase impossível fazer um aborto. Desde estados várias vezes maiores que Portugal onde só existem uma ou duas clínicas a realizar o procedimento, a leis que impedem a intervenção depois das 6 semanas (quando algumas mulheres ainda nem sabem que estão grávidas); são as mulheres pobres e pertencentes a minorias que acabam sempre por ser as mais prejudicadas.
E pior, são as mesmas pessoas que se opõem ao procedimento que depois negam apoios a estas mulheres porque “se não os conseguem criar, não deviam ter tido filhos”.