Assistentes Sociais de Bancada
“Dois anos! Sabiam de tudo há dois anos e não fizeram nada!”
Não há volta a dar-lhe, soa mal.
Se um gestor fabril soubesse que uma máquina estava com problemas há anos e essa máquina viesse a causar um acidente fatal, esse gestor, perdão, o seu subordinado imediato, deveria ser imediatamente responsabilizado.
Há um problema mecânico que pode ser resolvido (eu sei que tem custos, mas, adivinhem lá, ter uma empresa a funcionar costuma ter muitos desses) e a sua resolução pode salvar vidas; só há que o fazer.
Simples.
Acontece que quando uma criança é sinalizada pela segurança social, o procedimento a seguir mais parece um mapa dos comboios regionais Portugueses: são poucos e com tantas paragens que desanimam qualquer um.
Em teoria, a criança passa a ser seguida por assistentes sociais - mas só se a família permitir e houver técnicos suficientes – e, só então, se a situação se agravar, é ponderada a retirada da criança dos cuidados dos pais para ser entregue a uma instituição estatal – onde as condições podem ser potencialmente piores, já que famílias de acolhimento, viste-as – pelo que é priorizada a manutenção da criança na casa onde sempre viveu – o que não deixa de parecer uma troca de um mal desconhecido por um mal conhecido… - onde as inexistentes visitas pelos teoréticos técnicos relegam para a privacidade do “só quem está no convento” abusos e negligências indesculpáveis até que…
…mais uma notícia “de abertura de telejornal” choca o país e voltamos todos a memorizar o significado da sigla CPCJ.
Infelizmente, não há soluções mágicas e estes problemas sistémicos (ainda que bem identificados) vão levar anos a abordar, se alguma vez os conseguiremos resolver, porque o que não faltam no mundo são questões absolutamente prementes (!) que lá terão de esperar pela sua vez no grande guichet da vida.
Ainda assim, parece-me demasiado vil comparar as vidas de crianças inocentes com a fila para a peixaria.