A Zaragatoa Toca Sempre Duas Vezes
O telefone toca na cozinha.
Do quarto pedem mais um Paracetamol e outra chávena de chá preto. Hei-de deixar ambos no banquinho que foi estacionado à porta da doente imediatamente antes de a avisar que pode recolher o pedido, qual Uber Eats residencial.
A casa de banho única confere um certo je ne sais quoi à experiência; tendo a coreografia de “abre janela, ‘desguicha’ desinfectante nas superfícies, limpa as ditas, e só depois faz o serviço” deixado de ter graça algures pela primeira dúzia de vezes em que foi repetida.
Mas o quadro não ultrapassou o de uma valente gripe e não houve visitas à senhora doutora, nem de carro nem de tinonim, e, no fim de contas, há que dar graças ao senhor das vacinas pelos escassos - se bem que intensos - sete dias de clausura.
Até porque podia ser pior; podíamos estar todos positivos ao mesmo tempo e, depois, quem é que atendia o telefone na cozinha?