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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

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Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

17 de Fevereiro, 2025

A Mulher da Mala e Os Chinelos de Casa

Inês R.

O meu batismo em ficção Coreana aconteceu, recentemente, com A Mulher da Mala (The Trunk), uma série da Netflix, e fez de mim uma devota sincera (ainda que não-praticante - leia-se das que só vai à missa em dias de festa).

A premissa era suficientemente estranha para me fazer engelhar o nariz noutra altura qualquer (que não a meio da chata preparação para um exame ao sistema digestivo): para o castigar, uma mulher divorcia-se do marido e contrata uma agência de casamentos para lhe arranjar uma esposa de substituição que irá viver com ele durante um ano inteiro. Paralelamente, sabemos que a polícia se encontra a investigar um homicídio - ainda que não saibamos de quem - e que há uma mala de viagem, caríssima, metida ao barulho, que acaba por trazer à superfície toda esta novela.

Se estão já todos a prever que o tiro lhe vai sair pela culatra, então, têm toda a razão, ou não fosse a série considerada um drama-romance-mistério. 

Não vou estragar o final a ninguém, até porque não é tão previsível quanto possa parecer, mas a graça está, mesmo, em conhecer estas personagens; perceber os motivos daquela esposa desesperada, as fraquezas de um marido que aceita o impensável, e os segredos da noiva de aluguer no seu quinto casamento, assim como os detalhes do argumento que se cruzam de forma conveniente, sim, mas também bastante satisfatória.

Agora, para além do enredo, devo destacar a cultura Sul-Coreana que, longe de ser perfeita, foi uma parte fundamental do que me prendeu à história. 

Os chinelos de andar por casa são uma constante em todas as cenas passadas nas residências das personagens e à minha mente ocidental pareceu estranho ver, por exemplo, dois casais bem vestidos a fazer sala de chinelinhos de quarto nos pés (ainda que sempre a condizer com a roupa), mas, de fato, faz todo o sentido não levar toda a sujidade e bichesa da rua para dentro de portas e, diria, que é um hábito que devíamos adotar todos.

As longas pausas entre falas são um artifício usado na ficção em geral para chamar a atenção para o que acabou de ser dito ou para o que não está a ser mencionado, mas os amigos lá da Coreia transformaram-nas numa arte. Algumas chegam a ser desconfortáveis, de tão compridas, mas é um gosto adquirido, diria.

E, depois, temos a dedicação às boas maneiras que os fazem tratar todos por senhor e senhora, inclusivamente, os seus inimigos, em plena discussão (verbal ou física, não importa). Não que não hajam pessoas más por aquelas bandas, apenas que é algo tão enraizado na cultura que lhes é instintivo fazê-lo.

Já a comida tem sempre tão bom aspeto e uma forma tão específica de ser apresentada (tudo separadinho em taças diferentes, como eu gosto!) que até eu, uma esquisita profissional, fiquei com vontade de experimentar.

Posto isto, ando a ver se encontro outro sermão que me luza o olho para dar continuação à minha conversão. Aceita-se sugestões. 

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