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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

17 de Novembro, 2025

Não faz bem nem mal*

Inês R.

Ao contrário do (que se pensa do) Melhoral, os produtos homeopáticos podem, sim, fazer mal; porque podem ter substâncias ativas com potenciais efeitos nocivos ou interações medicamentosas, porque atrasam tratamentos, de fato, eficazes, e porque implicam custos desnecessários para os utentes.

Mas alguns podem encontrar-se nas farmácias nacionais, e a presença da homeopatia na farmácia legitimiza-a. Até porque, para tal, têm de ter o aval do Infamed. 

Um "produto de farmácia" merece, imediatamente, a confiança de quem o utiliza; uma confiança que "apanha" por entre as prateleiras separadas por secções e as batas brancas. De tal forma que já ouvi alguém oferecer uma vela perfumada com a devida adenda de que tinha sido comprada em farmácia. 

E contra fatos não há argumentos: tal como na alimentação, a procura por produtos e tratamentos naturais, sem "químicos," tem vindo a crescer nas últimas décadas (em paralelo com a desacreditação da ciência, infelizmente) e, a esta altura do campeonato, apenas nos resta esperar que as novas gerações ajudem a mudar a narrativa. Porque só porque é natural, não significa que não faça mal.

No entanto, se não há provas de que um produto homeopático tenha mais efeito do que um simples placebo (substância neutra que produz resultados positivos pela crença do utilizador no seu efeito), também é verdade que a positividade do paciente durante o tratamento ajuda na sua recuperação. Pelo que, se assim for a sua vontade, poderá ser benéfico para o  estado emocional do doente o uso destas terapias complementares em concomitância com os tratamentos convencionais, desde que informe o seu médico assistente de que o pretende fazer.

A própria Organização Mundial de Saúde reconhece as "medicinas alternativas" como amplamente utilizadas nos seus estados membros mas, por entre as recomendações de segurança e o politicamente correto, parece apoiar a sua utilização e são precisas várias pesquisas na sua página oficial para encontrar textos que admitam a verdade da situação: a maioria não é devidamente regulamentada e se a homeopatia, em particular, poderá considerar-se segura pela utilização de substâncias tão diluidas que passam a inexistentes (leia-se sem qualquer efeito, daí que "seguras"), este não é o caso com todos os produtos homeopáticos comercializados.

Será talvez uma nota positiva que, a haver comercialização desdes "medicamentos," esta seja feita num espaço onde se encontrem profissionais de saúde, que poderão fazer algum aconselhamento no ato da dispensa. Já se todos partilharão da minha opinião sobre estes produtos, isso já são outros quinhentos.

Fontes:

Portugueses recorrem cada vez mais à homeopatia - Jornal i online (ligação)

Homeopatia - Manual MDS (ligação)

Frente-a-Frente da homeopatia. Verdade comprovada ou uma enorme mentira? - Jornal i online (ligação)

Ciência diluída - artigo de opinião em Público online (ligação)

 

10 de Novembro, 2025

Homem destrói feminismo em onze palavras

Inês R.

"Então, porque é que não há mulheres a trabalhar em minas?"

Terá sido esta a questão que colocou um ponto final na discussão de décadas sobre a igualdade entre os sexos - de acordo com o homem que a proferiu, um técnico oficial de contas que nunca viu uma máquina de chest press ao vivo.

"Afinal, a igualdade é só para o que vos convém," terá rematado o mesmo senhor, antes de virar costas e deixar a mulher que abordou na esplanada do bar às vinte para a meia-noite sem possibilidade de resposta.

Se não o tivesse feito, talvez tivesse aprendido que sempre houve mulheres a trabalhar em minas (tanto na superfície quanto no seu interior), mas que durante anos o acesso à profissão lhes foi negado (assim como a qualquer outra posição que fosse "incompatível" com as suas sensibilidades de esposas e mães), e que, atualmente, as que não são proibidas são sujeitas a humilhações e avanços sexuais que tornam a profissão insustentável.

Mas também que, sim, muitas mulheres não têm a capacidade física ou mesmo a vontade de trabalhar nesses locais - onde as condições de trabalho são, admitidamente, extremamente difíceis.

Da mesma forma que muitos homens não trabalham em minas (ou em quaisquer outros empregos de elevado esforço físico) porque não querem ou não precisam de o fazer. E está tudo bem.

Há homens a fazer limpezas e mulheres em posições de chefia, e uma quantidade de outras situações "não convencionais" que resultam porque as pessoas por detrás do género têm as competências e as vocações certas para tal. 

E para todos aqueles e aquelas que não se podem dar ao luxo de escolher a sua profissão de sonho, os que precisam de trabalhar três part-times para colocar comida na mesa ou nasceram com um bilhete para a mina local na mão, seria importante garantir que, na impossibilidade de satisfação profissional, houvesse, pelo menos, respeito, segurança e um ordenado digno e equiparado ao dos seus pares à sua espera.

No entretanto, se alguma mulher encontrar o amigo TOC a praticar o mansplaining numa qualquer esplanada do país, digam-lhe que eu gostava de lhe dar uma palavrinha. Obrigada, sim?

Fontes:

Gender Dynamics in Mining: Why women don’t go into mines - Open Institute (Ligação)

Breaking barriers for women in mining - World Bank (Ligação)

Women in Mining – Then & Now - MRS Training & Rescue (Ligação)

03 de Novembro, 2025

Uma Anti-IA no Armário

Inês R.

Na verdade, este armário tem a porta entreaberta; sempre que falo do tema não consigo abster-me de referir as conhecidas alucinações, o consumo desmedido de água e eletricidade, ou as eventuais perdas de postos de trabalho para esta tecnologia.

Mas, recentemente, tenho-me sentido uma minoria em todas as conversas que viram para a Inteligência Artificial.

Se consigo admitir as vantagens de ter mais uma ferramenta que nos permita reduzir em mais de metade o tempo despendido em tarefas corriqueiras, seja no tratamento de dados ou na elaboração de apresentações, não aceito que se ignorem questões tão fundamentais quanto a segurança da informação utilizada ou a possibilidade da super-inteligência artificial ser implementada sem regulamentação. Esta última questão está, inclusivamente, a ser levantada por indivíduos que sabem do que falam: https://journal.hitrecord.org/p/why-build-an-ai-thats-smarter-than

Acontece que, para onde quer que olhe, há pessoas a utilizar estes LLM's para problemas do dia-a-dia ou a fazer formações sobre o tema ou a implementar a sua utilização no estudo ou no trabalho e dou por mim a morder a língua e a acenar a cabeça como se estivesse a ponto da conversão.

Não é por uma questão de princípio que sou anti-IA; tal como passei a utilizar calculadoras e computadores e telefones androides e não me vejo a voltar atrás, também aceito que esta tecnologia chegou para ficar e tem tudo para nos vir a alterar a vida de formas nunca antes imagináveis. Agora, se isso será algo inteiramente positivo, só dependerá de nós.

No entretanto, e enquanto o puder fazer, vou-me mantendo virgem de ChatGPT's e afins.