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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

26 de Maio, 2025

A Minha Coroação

Inês R.

Para um trabalho de dentista até nem foi dos mais caros, mas, tendo em conta o meu orçamento pessoal, pareceu-me uma despesa digna de uma rainha.

Senão vejamos, aos 500 euros tenho de juntar todas as quatro consultas que antecederam a colocação da coroa e mais o stress emocional de estar uma média de 45 minutos de boca aberta em frente a estranhos em cada uma delas, o que dá um total de demasiado valor para gastar num só dente.

Se sou a primeira a apontar todos os problemas do nosso Serviço Nacional de Saúde, também é inegável que temos bons cuidados de saúde em Portugal - bons profissionais e tratamentos (com as devidas exceções).

Mas uma das falhas mais flagrantes do SNS é a falta de acesso a consultas de medicina dentária "pela caixa".

Há quem deixe pequenas cáries por tratar porque os 50 euros por consulta são incomportáveis para as suas contas e quanto mais tarde visitam o consultório maior se torna o problema. E, sim, a prevenção é a maior amiga da carteira e uma boa higiene da boca traz benefícios a vários níveis, mas cáries acontecem. E saúde pública - a que todos temos direito - inclui a saúde da boca, também.

Sei que, como a minha, várias empresas disponibilizam ao seus colaboradores seguros de saúde que garantem descontos em consultas e exames médicos - ainda que nem sempre tenhamos a sorte de haver acordo entre as clínicas e a nossa seguradora - mas não é o suficiente para cobrir toda a população.

 E enquanto os sucessívos governos não resolvem a coisa, (ou dão cabo do pouco que temos...), vou tentar adocicar a dolorosa imaginando que sou agora da realeza (por parte de um molar).

19 de Maio, 2025

Achas que sabes perder (ou ganhar)?

Inês R.

Em honra do fim de semana recheado de finais (da política, da bola, e da Eurovisão) que acabámos de ter, segue um pequeno questionário para te ajudar a perceber como estás (realmente) a lidar com os resultados.

 

1- Estás piurso com os resultados. Achas que alguém se apercebeu?

a) Para além de amigos e familiares próximos? É pouco provável;

b) Quer dizer, não sou de ferro, e a desculpa de que "ainda não bebi café" deixou de colar ali depois do almoço;

c) A única pessoa que fez contato visual comigo hoje foi o polícia que me parou na rua e me pediu a identificação. O que é que achas?

 

2 - Os vencedores são, exatamente, quem querias que ganhasse. Tu...

a) Ficaste satisfeito com o resultado que consideravas o mais justo e seguiste com a tua vida;

b) Não vais negar que começaste uma ou duas (ou sete) conversas com: "Então, viste o resultado do/a...?";

c) Já foste bloqueado por spam em todas as redes sociais onde tens perfil e os teus colegas de trabalho estão ativamente a evitar ir à casa de banho apenas para não passarem pela tua secretária...

 

3 - Conseguiste assistir ao evento em direto? Emocionalmente falando.

a) Claro, até porque gosto de formar as minhas próprias opiniões, e a ansiedade não muda o resultado;

b) A televisão estava ligada, mas confesso que me fui distraíndo a fazer scoll no telemóvel;

c) Nã, as televisões nacionais não são de confiança. Segui tudo pelo live, dum gajo que sabe, no Facebook.

 

4 - Como te sentes? Mesmo.

a) Bem. Felizmente, tenho facilidade em compartimentalizar as coisas;

b) Passei um par de noites mal dormidas, mas comprei um bolo de aniversário, só porque sim, que estou a comer sozinho, por isso, não me posso queixar;

c) Tou como novo, pá! A pomada de cortisona limpou-me o eczema de stress e, com os exercícios de respiração, já quase não sinto as palpitações.

 

Resultados:

Maioria de a)'s - Não tenho bem a certeza se és a pessoa mais sã que já encontrei na vida ou se te estás a enganar a ti próprio, mas contra fatos não há argumentos e parece que venceste este quiz também. Props.

Maioria de b)'s - Não estarás na melhor fase da tua vida, mas, ao menos, és autoconsciente e sabes que há espaço para melhorar. Tipo, bué espaço.

Maioria de c)'s - Se não estás a ler isto da sala de espera de um consultório de Psicologia, então, o que é que estás à espera para marcar uma consulta? A sério, deixaste-me preocupada, pá.

 

12 de Maio, 2025

O Sapato de Vidro (da Marinha)

Inês R.

A nossa história da Cinderela é muito menos glamorosa que a da Disney, ainda que se aproximem nas questões de casting.

Esta ideia romantizada de que os dóceis e trabalhadores emigrantes Portugueses são bem vistos e recebidos em qualquer parte do mundo, ignora - propositadamente, diria eu - todas as dificuldades que muitos dos nossos passaram no estrangeiro.

Houve, por exemplo, uma comunidade de gente a viver em bairros de lata nos arredores de Paris nos anos 60 e 70 do século passado, e o caráter de toda uma nação foi colocado em causa no seguimento de um grave caso de violação ocorrido nos anos 1980, nos Estados Unidos.

Mas, apesar de tudo isto, o Português sempre teve a sorte de se confundir com os nativos de muitos dos países para onde se mudou (mudou, não colonizou - porque isso é outra história), e soube colher os, respetivos, benefícios.

Sem querer desfazer da habilidade que temos para fazer de qualquer sociedade o nosso novo lar, há que mencionar a facilidade com que nos separamos dos outros imigrantes, os "maus imigrantes," aqueles que nos fazem parecer a melhor alternativa.

Acontece que, com as devidas exceções, os migrantes de todas as nacionalidades partilham o mesmo objetivo: alcançar uma vida melhor, para si e para os seus.

E isto inclui aqueles que vivem e trabalham atualmente em Portugal. Não são mais nem menos que os Portugueses que tomaram a mesma decisão e merecem o mesmo tratamento. Independentemente de vestirem de forma diferente ou rezarem a outros deuses. E também devem receber os castigos apropriados, caso infrinjam as leis do país que habitam.

Sei que é uma situação delicada - com mais nuances que um quadro do Van Gogh - mas, por isso mesmo, deve ser tratada com cuidado, porque estamos todos a uma crise ou guerra ou pandemia ou desastre natural de passarmos, também, a ser pessoas que migram.

E quem não tem sapato de vidro que chute a primeira pedra.

05 de Maio, 2025

Votar para quê?

Inês R.

Ouvi, há dias, dizer na rádio que os votos de certas localidades do interior nem sequer contam para eleger ninguém e fiquei, apropriadamente, deprimida. 

(Leia-se com vontade de estampar parar o carro, vender todos os meus bens, mudar-me para uma barraca no meio da floresta sem acesso à Internet, e nuncar mais colocar os pés num local de voto.)

Ah, o que eu gostava de ser uma daquelas pessoas que dizem "não ligar a política"...

Acontece que política é tudo o que nos rodeia; se estão, neste momento, a ler este texto no telemóvel, na vossa hora de almoço, ou no sofá depois de "despegarem" do serviço, é porque existem leis que exigem, por exemplo, que o vosso dia de trabalho seja de apenas oito horas, com uma hora de pausa, e outras que garantem que eu tenha o direito de exprimir a minha opinião sobre os populistas que atiram "o problema da imigração" para os olhos do povo enquanto lhes tentam tirar direitos fundamentais pelas costas.

Se o sistema de voto utilizado em Portugal (e um pouco por todo o mundo) será o mais justo, haverá quem o saiba (contra)argumentar melhor do que eu, mas a democracia continua a ser, indubitavelmente, o sistema de governo que melhor garante que todos tenham a sua voz ouvida e não pode ser separada do direito ao voto.

Portanto, diria eu, votar continua a ser, vá, fundamentalzinho. E, nas próximas eleições, eu vou votar, o que é que há-de fazer...