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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

28 de Outubro, 2024

Falácia do Espantalho

Inês R.

*e, não, não é um ataque pessoal, mas antes um tipo de raciocício que parece lógico e verdadeiro mas que acaba por se revelar falso.

"Não é aceitável que um agente da autoridade se sinta no direito de atirar a matar num cidadão que não lhe deu razão nenhuma para isso."

"Havia de ser uma coisa esperta, se não houvesse polícia e os criminosos pudessem fazer o que bem entendessem."

Diz-se que, quando um argumento é, propositadamente, mal interpretado e essa distorção é depois usada para o ridicularizar, estamos perante uma Falácia do Espantalho.

A primeira afirmação não indica, de forma alguma, o desejo de acabar com o policiamento da comunidade, mas antes que este seja feito de forma responsável. Estamos a falar de profissionais que lidam com situações, potencialmente, muito perigosas, sim, no entanto, há que garantir que saberão merecer a confiança de carregar armas de fogo no cumprimento do seu dever.

Já o contra-argumento apresentado escolhe, deliberadamente, extrapolar que a ideia por detrás da afirmação é acabar com toda e qualquer forma de policiamento - que se as forças de segurança não puderem fazer o seu trabalho, então, estão a ser tornadas redundantes.

E isto acontece quando o opositor não encontra um ângulo para refutar a afirmação inicial. 

Neste caso, porque não existe ninguém que consiga discordar da premissa de que matar inocentes não está certo e, há, por isso, que a interpretar de uma forma, digamos, mais criativa.

A consequência foi uma incitaçãozinha à violência escondida numa mensagem de inclusividade, ou um All Lives Matter à moda do Ventura.

21 de Outubro, 2024

Quem Me Dera Ser Bactéria

Inês R.

Passar os meses - ou minutos - da minha vida abençoadamente ignorante da minha própria existência e sem responsabilidades de maior.

Bastar-me-ia ser uma bactéria comum, um coco, um bacilo; nunca tive pretenções de ser melhor que ninguém e nunca aspiraria a ser super-bactéria. 

Se o ponto alto da minha existência fosse ser recolhida de um iogurte para ser observada ao microscópio por miúdos de 15 anos num laboratório de Biologia, então, morreria uma bactéria feliz.

E a vida numa comunidade silenciosa sempre me pareceu muito bem. Partilhar casa com alguns milhões de outros seres unicelulares iguaizinhos a mim, com a mesma completa ausência de emoções e o mesmo estilo de pentear os pilis e os flagelos, seria a minha versão de Céu aqui na Terra.

Não ter contas para pagar, nem chatices no trabalho para resolver, nem ter de assistir à degradação da empatia humana no mundo digital e do resto todo no mundo real. Essencialmente, não ter de lidar com pessoas.

A não ser para lhes causar uma ou outra infeçãozinha aqui e ali, claro.

Ah, quem me dera ser bactéria...

14 de Outubro, 2024

Pára-Corações

Inês R.

Os putos da série Heartstopper levaram 3 temporadas a ir para a cama, mas andam a "dar-lhe" desde o primeiro episódio.

E, com isto, quero dizer que os enredos se centraram na importância da saúde mental e na aceitação da sexualidade de cada uma das personagens, logo desde o início da história, e fizeram-no com o cuidado e determinação que os assuntos exigiam.

A série é baseada na novela gráfica de Alice Oseman, que é também a sua criadora e guionista, e incorpora pequenas animações ao estilo da autora que complementam as cenas de uma forma que pode parecer condescendente, ou mesmo infantil, mas que resulta muito bem em contraponto com os temas pesados que abordam.

Há primeiros beijos e saídas à noite e declarações fofas entre adolescentes inseguros e pouco eloquentes, mas também há pais ausentes e anorexia nervosa e uma rapariga trans humilhada em público e a distinta sensação de que não estamos, simplesmente, a consumir propaganda.

Não vai mudar o mundo da ficção como o conhecemos, nem irá para a minha Lista, para ser revista uma e outra vez - até porque não sou o seu público alvo. Será, sim, reconhecida como uma série que marcou os jovens do seu tempo e, se a única falha que se lhe pode apontar é a de ser levemente embaraçosa, julgo que todo o sucesso internacional a vai ajudar a lidar bem com isso.

07 de Outubro, 2024

Cabelo Higroscópico Aluga-se

Inês R.

"Em menos de uma hora, e a um preço jeitosinho, eu e o meu cabelo dirigimo-nos a sua casa e absorvemos toda a humidade do ar - e, provavelmente, dos vasos de plantas que existam na residência, também."

Um exagero para propósitos de comédia? Se conhecessem o emaranhado de silica-gel que tenho na cabeça talvez achassem que não.

Bastam uns dias de nevoeiro ou de chuva molha-tolos para que se crie uma auréola de pelos adolescentes - leia-se daqueles rebeldes e sem rumo - em toda a superfície capilar da minha pessoa, que nem com um rabo-de-cavalo tem solução.

E se, porventura, tenho o azar de se combinar chuva com vento, dou por mim quase convencida a fazer uma rapada. Diz que dá com tudo e sempre poupava no shampô.

Mas logo o tempo muda e, qual teenager a quem a mãe, finalmente, alargou a hora de chegar a casa, os fios acalmam-se, param de bater com a porta do quarto, e deixam-se pentear. 

E eu esqueço toda esta novela, até os senhores do tempo voltarem a anunciar mais uns dias de outono, e depois... depois, olha, que se lixe, diz que os penteados anos 80 estão in outra vez.