No Meu Tempo
Uma mãe em 2064:
"Quando eu era miúda, uma série estreava num canal de streaming e nós tinhamos de esperar para chegar a casa nesse dia e lutar contra o sono para tentar ver, ao menos, metade dos episódios. Não havia cá conteúdos direct-to-mind, meu menino."
Picardias entre gerações sempre existiram e irão continuar a existir. No século XIX, a moda de ler romances era considerada problemática para as jovens moças, quando agora temos pais que davam um rim para que os filhos pegassem num livro. E quem nunca começou uma frase ou duas por "no meu tempo" que atire a primeira pedra.
Eu sou culpada de uns quantos "ainda sou do tempo de aguentar uma semana por um novo episódio" e dois ou três "gravávamos as canções da rádio em cassetes a rezar para que o locutor não falasse" e cresci a ouvir que "se tinha de esperar que a emissão da RTP abrisse para ver tudo a preto e branco" ou que "as bandas de covers mal sabiam falar inglês e eram 100 vezes melhores que as de agora".
Numa espécie de relação amor-ódio, imaginamos a nossa juventude como muito mais "autêntica" que a dos nossos pais, mas tão mais sacrificada que a dos nossos filhos e daí não vem mal nenhum ao mundo. Exceto, claro, quando serve de justificação para discursos preconceituosos e retrógrados.
Mas, na verdade, tendo em conta que estas palavras não foram escritas por IA, mas por uma pessoa de carne e osso, diria que este tempo ainda é o meu.