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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

29 de Abril, 2024

Crimes de Guerra

Inês R.

No sítio do Diário da República, consta a seguinte definição: "São, nomeadamente, crimes de guerra as violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos armados internacionais ou internos e todas as violações graves às quatro Convenções de Genebra, de 12 de agosto de 1949, dirigidas contra pessoas ou contra bens que sejam protegidos pelas mesmas convenções."

Em teoria, não deveriam haver populações debaixo de fogo há mais de dois anos por uma disputa de serventias, nem 9 milhões de civis deslocados e 18 milhões em risco de fome por jogos de poder, nem cidades dizimadas onde o povo morre tanto por falta de comida como de hospitais à conta de ideologias inventadas.

Na prática, o povo Ucraniano sofre as repercussões dos devaneios de um ditador desde fevereiro de 2022, o Sudão está em risco de sofrer a maior crise alimentar desde a tragédia de Darfur, e os Palestenianos são meras casualidades da "guerra contra o terrorísmo".

E, um pouco por todo o planeta, morrem milhares de pessoas por consequência de conflitos armados que, num mundo, perfeitamente, digital, não passam de notas de rodapé nos noticiários ocidentais.

Conflito no Sudão arrisca tornar-se a maior crise alimentar do mundo - Observador

Quais são as grandes guerras em curso no mundo — e por que algumas chamam menos atenção? - BBC News Brasil

24 de Abril, 2024

Acordos Ortográficos e d'Outros Tipos

Inês R.

O dia é o 25 de Abril de 1974 e estas são algumas das regras usadas na ortografia Portuguesa:

- Escreve-se "perguntar," sendo que "preguntar" consta nos dicionários como referência histórica - só não é recomendado fazê-lo, independentemente da grafia;

- Diz-se "quer" em vez de "quere," no entanto, a forma verbal é comumente substituída pelo seu sinónimo "obedece";

- Um acento separa quem "pára" para pensar nas injustiças do regime e aqueles "para" quem não justifica pensar;

- Não é utilizado acento circunflexo para diferenciar "força," substantivo de "força," verbo, porque a união ainda não faz a força e é a polícia do estado quem força o povo a cumprir a lei;

- E emprega-se o hífen em palavras como "hei-de," "hás-de," "hão-de" na esperança de fazer a ponte para um futuro mais risonho.

 

22 de Abril, 2024

Fazer a Cama

Inês R.

Não no sentido de a construir, mas apenas de puxar as orelhas aos lençóis e cobertores (ainda que para a desfazer dali a horas, outra vez).

E fazê-mo-la todos os dias - porque a mãe mandou - e porque nos faz sentir bem connosco mesmos. Um quarto pode estar a precisar de um espanador de pó ou ter uma cadeira soterrada em roupa "que ainda pode ser usada mais uma vez," mas de cama feita parece sempre pertencer a alguém que tem a vida orientada.

Então, porque é que eu deixo a minha cama por fazer todos os dias?

Diz que se deve deixar a cama arejar, pelo menos, 10 minutos antes de a fazer - que a humidade da noite é propícia à propagação de ácaros e outras bichezas ruins - o que é, perfeitamente, fazível entre o pequeno-almoço e a visita ao W.C. 

Acontece que há demasiada malta a frisar a necessidade de deixar a roupa da cama e o próprio colchão respirar durante várias horas por dia o que, para a maioria de nós, impede que façamos a cama antes de saír para o trabalho - a não ser que o "escritório" seja na nossa sala de estar.

E é por esta razão que quaisquer visitas não programadas irão ver a minha cama por fazer (ainda que não desarrumada, porque eu dobro a roupa bem dobradinha aos pés da cama). 

Mas também não me deito sem a fazer; não consigo adormecer numa cama a lembrar um areal cheio de altos e baixos.

Agora, se tenho razão? Não sei. Só sei que, até saber de uma solução mais prática, vou continuar a fazê-lo. Ou, por outra, a deixar de fazer.

Fazer a cama todos os dias: sim ou não? - Ekonomista,

Como manter o quarto limpo e arejado - IKEA

15 de Abril, 2024

Férias de Verão em Abril

Inês R.

Já andava a pensar nesta viagem desde o ano passado e, finalmente, marquei-a. Reservei o lugar, compareci na data prevista e deixei o resto nas mãos do universo.

Mas, como de costume nestas lides, nem tudo decorreu como programado.

Sucede que o meu problema não foi uma bagagem perdida ou um quarto de hotel com reserva duplicada. Não, o contratempo que se me assistiu foi da variedade mecânica: uma bomba de água rota a que se juntou uma junta da tampa das válvulas a verter óleo e um termostato avariado de surpresa, para ser mais concreta.

E, assim, este ano, a despesa extra está feita. Não surgirá dúvida entre praia, campo, ou cidade; não viajarei para o estrangeiro, nem irei para fora cá dentro; mas, se tudo correr bem, fico com o carro pago em novembro e para 2025 logo se vê.

No entretanto, posso ficar com a certeza que a agência de viagens, que é como quem diz oficina de mecânica, fez o que podia para garantir que a viagem não tivesse muita turbulência (ou custos fora do meu orçamento) e mais do que isso não posso pedir. Tal como o tempo, os problemas no carro não são possíveis de controlar.

08 de Abril, 2024

Homem Local Pede Divórcio

Inês R.

"Fiquei em choque," disse o agora ex-marido de Maria, nome fictício a pedido do advogado da própria, a propósito da exigência que ela lhe fez naquela noite de quarta-feira.

"Estava sentado no sofá, depois de um longo dia de trabalho, quando ela se vira para mim e o diz," continua o homem, claramente, ainda carregando o trauma daquela que foi a gota de água que fez transbordar o copo da sua relação de sete anos.

Passava pouco das 19:40 quando Maria, tendo chegado a casa do trabalho, depois de ir buscar o filho à escola, começou uma máquina de roupa, enquanto o empadão estava no forno, e teve a audácia de pedir ao marido para se levantar do sofá e levar o lixo ao contentor.

"E o pior é que ela sabia o quão cansado eu estava," atira ainda com a mágoa de um pai de família que trabalhava arduamente para pagar as contas e pôr comida na mesa. 

Soubemos de uma fonte próxima do casal que o relacionamento entre os dois há muito que andava tremido, tendo havido, inclusivamente, uma situação no supermercado em que Maria foi ouvida, por entre a dificuldade de controlar a birra do filho no corredor das bolachas, a queixar-se das três ou quatro atividades que o marido fazia todos os sábados, feriados e três noites por semana.

"Um fim anunciado," rematou a mesma fonte, tendo acrescentado que "não podemos perder a esperança, porque há muitas mulheres por aí que sabem dar valor a um homem a sério".

À hora de fecho desta edição, Maria não tinha ainda respondido ao nosso pedido de comentário.

Se está a passar por uma situação semelhante, ou conhece algém nessa situação, saiba que a ajuda existe. Consulte tinder.com ou visite o seu bar local sem aliança.

Inspirado pelo site The Onion - A melhor fonte para todas as suas notícias fictícias.

01 de Abril, 2024

O 32 de Março

Inês R.

Era uma vez um rei que odiava perder; as chaves do castelo, a paciência e, acima de tudo, apostas. Era, exatamente por isso, aliciado com os mais variados desafios por toda a corte. 

"Sua Alteza não conseguirá, certamente, consumir todas estas canecas de ale antes do clarear do dia," dizia alguém, de sorriso maroto, pouco antes do rei se sentar à mesa e começar a emborcar o líquido de penalti.

Até que um belo dia, com o peito cheio do orgulho de quem tinha acabado de vencer mais uma competição em contra-relógio, o monarca se vê a aceitar uma aposta, digamos, diferente. E, assim, por absolutamente mais nada a não ser o prazer de vencer, sela com um aperto de mão o destino dos calendários do mundo.

A tarefa era complicada que chegasse, mas foi o nosso rei quem achou necessário incluir a cláusula que descambou com o resto: com a sua identidade escondida, teria até ao final do mês para fazer uma moça casadoira apaixonar-se por si. Fácil.

Só não contava com a dificuldade de encantar raparigas sem o seu título e toda a infuência que dele advinha. Contudo, e depois das várias prisões que decretou por suspeita de jogo sujo, lá percebeu que a sua personalidade deixava um tantinho a desejar e tratou de arranjar outra.

Quando a farsa parecia estar a surtir efeito na filha do leiteiro, a data limite fez-se anunciar por uma carta anónima que, num tom provocador, dava a aposta como perdida, e o rei perdeu a cabeça.

Sem qualquer consideração pela jovem mulher, insinuou-se no seu quarto nessa mesma noite e na manhã seguinte estavam noivos. 

A chegada ao palácio, de mãos dadas com a sua vitória, azedou de imediato a sua disposição. Os cortesãos que não sussuravam a sua desgraça, mal continham os sorrisos de desdém e o rei não o podia permitir.

Sem tempo para pensar nas consequências, dirigiu-se à pequena multidão nos seguintes modos:

"Caros amigos, apresento-vos a vossa futura rainha. Que, até há minutos, pensava estar noiva de um sapateiro que nem dinheiro tinha para arranjar os seus próprios sapatos. Torno-me, assim, no homem mais feliz do mundo, pois terei, não só, ganhado a melhor esposa como a aposta que me levou até ela."

O silêncio que se abateu pela sala podia ser cortado à navalha, até que uma voz ousou dizer o que todos ali pensavam: "Sua Alteza, com a sua permissão, o cabo do mês foi ontem."

A gargalhada que o rei soltou deixou todos de boca aberta, mas não sem explicação.

"O que dizes? Pois, se hoje é o dia 32 do glorioso mês de Março. Digo-to eu, o teu rei."

E ninguém ousou proferir uma única palavra que o contradissesse. 

Pelo menos, até à sua morte prematura, a cavalo numa das suas conhecidas apostas. Já depois, a sua viúva não só o desmentiu como declarou o primeiro de Abril como o Dia das Mentiras, em homenagem ao rei que odiava perder e acabou de cabeça perdida.