Mudança de Perspetiva
Que levante a mão quem entrou hoje no carro e - tal como eu - teve um pequeno enfarte quando olhou para a hora no tablier.
Habituados que estamos aos gadgets que se atualizam sozinhos, restam os relógios analógicos, que ainda habitam algumas cozinhas deste país, para nos fazer pensar um bocadinho; "Espera, então, a hora anda para..."
Agora, no que aos problemas do mundo diz respeito, este será dos menos significativos - principalmente, nos dias que correm. E se não quero minimizar, de todo, as preocupações individuais de cada um (que também acarretam muito sofrimento), a verdade é que a possibilidade de chegar atrasado ao trabalho não se compara, por exemplo, com a devastação de viver um conflito armado.
Li, há dias, que enquanto nós temos a facilidade de desligar a televisão ou bloquear o conteúdo nas redes sociais, quem vive os ataques não tem esse privilégio; que o nosso desconforto com as imagens gráficas e com as histórias dramáticas deve ser ultrapassado para que não deixemos que mais esta tragédia se perpetue indefinidamente.
O meu primeiro instinto foi contrariar a ideia de que proteger a nossa saúde mental não é tão importante quanto o tomar de uma posição moral sobre o assunto, mas logo percebi que - com as devidas exceções, já que acredito piamente que, em algumas pessoas, este ciclo de notícias pode causar graves danos emocionais - ignorar ou sanitizar as atrocidades que se estão a passar na Faixa de Gaza, em particular, apenas permite que continuem a acontecer.
Compreendo que haja dificuldade em assumir uma posição definida sobre o assunto - até porque a extrema complexidade do conflito Israelo-Palestino é bastamente conhecida - mas considero fundamental que nos tentemos educar e que nunca percamos a empatia pelo sofrimento alheio, especialmente, se motivados pelo preconceito.