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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

30 de Outubro, 2023

Mudança de Perspetiva

Inês R.

Que levante a mão quem entrou hoje no carro e - tal como eu - teve um pequeno enfarte quando olhou para a hora no tablier. 

Habituados que estamos aos gadgets que se atualizam sozinhos, restam os relógios analógicos, que ainda habitam algumas cozinhas deste país, para nos fazer pensar um bocadinho; "Espera, então, a hora anda para..."

Agora, no que aos problemas do mundo diz respeito, este será dos menos significativos - principalmente, nos dias que correm. E se não quero minimizar, de todo, as preocupações individuais de cada um (que também acarretam muito sofrimento), a verdade é que a possibilidade de chegar atrasado ao trabalho não se compara, por exemplo, com a devastação de viver um conflito armado.

Li, há dias, que enquanto nós temos a facilidade de desligar a televisão ou bloquear o conteúdo nas redes sociais, quem vive os ataques não tem esse privilégio; que o nosso desconforto com as imagens gráficas e com as histórias dramáticas deve ser ultrapassado para que não deixemos que mais esta tragédia se perpetue indefinidamente.

O meu primeiro instinto foi contrariar a ideia de que proteger a nossa saúde mental não é tão importante quanto o tomar de uma posição moral sobre o assunto, mas logo percebi que - com as devidas exceções, já que acredito piamente que, em algumas pessoas, este ciclo de notícias pode causar graves danos emocionais - ignorar ou sanitizar as atrocidades que se estão a passar na Faixa de Gaza, em particular, apenas permite que continuem a acontecer.

Compreendo que haja dificuldade em assumir uma posição definida sobre o assunto - até porque a extrema complexidade do conflito Israelo-Palestino é bastamente conhecida - mas considero fundamental que nos tentemos educar e que nunca percamos a empatia pelo sofrimento alheio, especialmente, se motivados pelo preconceito.

23 de Outubro, 2023

O Diabo no Tribunal: Spoilers, o Gajo Não Compareceu

Inês R.

"Foi o Diabo, não fui eu!"

Disse o fulano que tirou a vida ao patrão da namorada por ciúmes. Se estão a pensar que esta defesa não pode ter convencido ninguém em tribunal, então, têm toda a razão. Mas e se eu vos disser que o homem jurava a pés juntos ter "apanhado" este demónio, em particular, do seu pequeno cunhado de 11 anos?

Toda a história dava um filme - na realidade, deu vários - mas entre as gravações em audio das "possessões" (curioso como aquele demo usava tantas expressões infantis... quase como se fosse o miúdo a inventá-las no momento) e o casal de demonólogos que, coincidentemente, comentou tudo o que iria acontecer ao miúdo à sua frente, o que mais me custou foi ver aquela criança, claramente, a precisar de ajuda e não haver um único adulto na sua vida - entre pais, vizinhos e padres exorcístas (sim, houve exorcísmos católicos...) - que tivesse sugerido uma consulta de Psiquiatria. Apesar de serem os anos 80's.

O documentário estava já a mais da metade quando aparece o único membro da família que não acredita na dita possessão. Conta ele que, a dada altura, numa das "cenas," estava o irmão mais novo a debitar palavrões e insultos dirigidos à mãe quando o pai se levanta, lhe prega uma estalada, e o manda calar, e não é que o "Diabo" faz exatamente isso!

Este irmão descrente acusa também a mãe de, durante anos, colocar um calmante na comida de toda a família que tinha, entre outros, o possível efeito secundário de causar alucinações. Segundo ele, a mãe, que sofria de Transtorno Obssessivo-Compulsivo, escrevia todos os seus pensamentos em qualquer pedaço de papel que o permitisse e, após a sua morte, ele encontrou passagens onde ela descrevia, exatamente, como o fazia.

Seja como for, tenha sido uma consequência do medicamento escondido na comida ou um caso de histeria coletiva, a verdade é que não houve possessão demoníaca alguma, mas antes uma mão cheia de vidas destruídas pelo medo e ignorância de alguns e pela maldade e ambição de outros.

E aposto que não surpreende ninguém que o casal de "especialistas," que se disponibilizou para ajudar, tenha feito uma pequena fortuna com a história enquanto que a família dos ovos de ouro herdou apenas o trauma.

16 de Outubro, 2023

Chilly Season

Inês R.

Se o Outono de 2023 trouxe alguma novidade foi a de já não nos deixar falar da "guerra" sem termos de elucidar a qual das tragédias nos referimos. De resto, tem passado muitos dos seus dias a fazer cosplay do Verão com fatiotas tão realistas que chegam a ser mais bem conseguidas que as do próprio.

E se a maioria dos (meus) inquiridos achou "o máximo!" este Verão prolongado, a verdade é que esta onda de calor foi só mais um sintoma das famosas alterações climáticas que tantas "achações" inspiram.

Não será de estranhar que eu diga que, no que ao mundo das ciências diz respeito, um "eu acho" vale tanto quanto um Tesla sem posto de carregamento: pode-te levar até um certo ponto, mas depois não passas dali. Portanto, na dúvida, é consultar os doutores duma revista científica.

Ainda assim, se os senhores da meteorologia não se equivocaram, este texto vem acompanhado duma mudança no tempo - para o fresquinho próprio da altura da queda da folha - pelo que, talvez ainda haja salvação para a estação. Mesmo que, infelizmente, não afete em nada o clima político...

09 de Outubro, 2023

Saber Estar e... Protestar

Inês R.

"Os miúdos do clima até podem ter razão, mas era mesmo preciso aquilo tudo?"

Atrevo-me a dizer que sim. Até porque a intenção é obter resultados e não apenas arranjar conteúdo para o Instagram.

Um protesto bem organizado, com cartazes politicamente corretos e hora e local para começar e acabar, raramente move montanhas ou deputados com assentos parlamentares. E se o voto é a nossa maior ferramenta enquanto sociedade - que é - não podemos deixar de nos manifestar nos períodos entre eleições só porque pode não dar em nada.

"Mas desde quando quebrar a lei é protestar?"

Desde sempre? Eu sei que não é tão glamoroso como a mug shot da Jane Fonda nos anos 1970, mas se uma pessoa anónima, sem a rede de segurança da fama e do dinheiro, coloca a sua liberdade em jogo pelo bem da sua sociedade, sou rapariga para agradecer a sua coragem.

E, certo, pode não dar em nada. Mas é se der?

02 de Outubro, 2023

Português, à Moda de Portugal

Inês R.

"Ora, bom dia, desde o mês passado!"

Quem nunca proferiu uma qualquer versão desta jocosa frase, pelo menos uma vez na vida, que atire o primeiro insulto anónimo na caixa de comentários. Pessoalmente, sou grande fã do "Até pró ano!" dito na última semana de dezembro.

Fica ali no bairro do "Queria, já não quer?" e nos arredores do "Sim, posso acender a luz. Queres que acenda?" - esta última era um clássico da minha professora de Português do 12º ano; a mesma que se deitou no chão para amaciar a vergonha de uma aluna que caiu da cadeira, em plena aula.

E, sim, os exemplos acima são irritantezinhos, mas, tecnicamente, corretos.

E se outros há que despertam em mim a Intrutora Militar da Gramática, que tentei abandonar lá pelos meus 20's, a verdade é que estas "piadas privadas," que partilhamos tanto com estranhos como com "os nossos," dão um sabor especial à vida, e, não, não é a galinha.

Mas "supônhamos" que algumas destas expressões estejam, efetivamente, erradas (o que eu gostava de ter a oportunidade de dizer um "Tás a ver!" ao meu antigo colega de trabalho que insistia em "desfazer a barba" - obrigada Marco Neves, do blog Certas Palavras), então, nesse caso, acho que podem, e devem, dizer qualquer coisa - mesmo que só anos depois, num cantinho da Internet, e protegidos pela fotografia de uma cadelinha de chapéu vermelho.