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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

25 de Setembro, 2023

Cluedo Emocional - a Versão de Bolso

Inês R.

Vi a última temporada de Sex Education e dei por mim a chorar como uma criança de três anos proibida de ver o filme da Barbie; pior, como um homem adulto que foi obrigado pela parceira a ver o filme da Barbie.

E se é verdade que, sendo a temporada final da série, os episódios trouxeram muita emoção para o ecrã, também o é que eu não sou pessoa de choro fácil. Acontece que estava naquela altura do mês: em que o dinheiro começa a escassear na conta e, coincidentemente, estava com o período. Ou talvez tenha sido influência da aproximação do Outono e da depressão sazonal que a acompanha...

Seja como for, apenas experienciei uma emoção humana, perfeitamente normal. Então, porque é que senti necessidade de a justificar como se estivesse sentada no banco dos réus com o juiz prestes a declarar prisão perpétua?

A vulnerabilidade não é uma falha de carácter e mostrar emoção não nos torna, necessariamente, fracos aos olhos dos outros. Com as devidas exceções (porque o choro fácil pode ser um sinal de depressão clínica), chorar é apenas mais uma das inúmeras funções que vêm com o nosso corpo de fábrica - nem é preciso pagar mais por este extra! - e que nos permite, entre outras coisas, sentir a felicidade ou tristeza de personagens que nos recordam da nossa própria humanidade.

Portanto, não, não foi o Outono na sala de estar da Netflix com a menstruação de canos serrados. Até porque não há crime nenhum para desvendar.

18 de Setembro, 2023

Achas que sabes Outonar? - Especial Saúde

Inês R.

Gostava muito de poder dizer que aprendemos todos grandes lições com a tragédia da Covid-19, mas, infelizmente, tenho sido desmentida de cada vez que, digamos, saio à rua e convivo com, vá, gente.

Queiram, por favor, contrariar-me:

 

1 - O que é que te apraz dizer quando pensas em máscaras?

a) Que vou ter sempre um stock em casa para quando estiver doente e precisar de frequentar espaços partilhados.

b) Que se deus nosso senhor quiser, e o meu fígado permitir, nunca mais coloco um desses aparelhos do demo na cara!

c) Que nunca gostei muito do Carnaval.

 

2 - O que fazes se um espirro ou um ataque de tosse te apanham de surpresa?

a) Dirijo o dito cujo para o braço ou para um lenço de papel.

b) Não faço nada. Agora, também, tudo é Covid...

c) Finjo que fico contente, para não parecer mal, mas a verdade é que detesto surpresas.

 

3 - E se voltarem a disponibilizar o reforço da vacina contra a Covid para a tua faixa etária?

a) Lá estarei na fila para levar a pica. A vacina da Gripe também se leva todos os anos e não suscita teorias da conspiração. Que eu saiba...

b) Nã, a mim não voltam a enganar. Isto são só as farmacêuticas a fazer render a sua mina de ouro.

c) Chamo a polícia...? Ai, não sei! Digam-me vocês!

 

4 - Parece que a Covid veio para ficar. Achas necessário voltar a ter os cuidados anteriormente exigidos?

a) Felizmente, as vacinas diminuiram a necessidade de medidas mais radicais, mas o senso comum dita que a etiqueta respiratória e a higiene das mãos se devam continuar a cumprir. Um truque que considero importante é o baixar da tampa da sanita antes de descarregar o autoclismo.

b) Claro que não! Nem achei necessário na altura. A mim ninguém volta a meter em prisão domiciliária! 

c) Veio? Mas veio quando? Bolas! Sou sempre a última a saber...

 

Resultados:

Maioria de a)'s - Na minha humilde opinião, não vais ter quaisquer problemas em enfrentar a estação fria que se avizinha. E obrigada por me fazeres crer que até houve quem levasse da pandemia aprendizagens para a vida.

Maioria de b)'s - Até podia sugerir um artigo ou dois para leres, mas algo me diz que não fariam, absolutamente, diferença nenhuma. Só te posso desejar boa sorte.

Maioria de c)'s - Talvez seja uma bênção disfarçada, esta de não fazeres a minima ideia do que se passa à tua volta... Oi? Nada, nada. Olha ali um passarinho!

11 de Setembro, 2023

Não Só Quando Troveja

Inês R.

Há um garrafão com cinco litros de água potável guardado na despensa cá de casa, que é substituída de tempos a tempos, de forma a estar sempre utilizável. Porque, às vezes, um cano rebenta nas proximidades, porque a água da freguesia é cortada para manutenção, ou, simplesmente, porque acontece, e continua a ser preciso lavar as mãos, escovar os dentes, passar fruta por água... basicamente, viver a vida.

Mas ando, há anos, a pregar que devíamos ter, num sítio estratégico, uma mochila para emergências que nunca se chegou a materializar.

Pois que sempre que acontece uma tragédia, como o recente abalo em Marrocos, esta minha vontade ganha um novo vigor, que acaba por passar tão depressa como surgiu, e a mochila, nem vê-la.

Mas, então, que mochila é esta? Bem, não é mais que um kit de sobrevivência para situações de emergência, como sismos, inundações, desabamentos, etc.

E, em termos gerais, o seu conteúdo tem de garantir que não passamos fome, sede ou frio nas primeiras horas ou dias após a tragédia, e que tenhamos connosco ferramentas, materiais e medicamentos suficientes para tratar possíveis ferimentos, garantir a manutenção de situações crónicas de saúde ou desenrrascar em situações de aperto.

A Deco Proteste tem AQUI uma lista detalhada e fácil de entender de tudo aquilo que possamos precisar se nos virmos a braços com um cenário de filme de Hollywood - até porque a realidade supera bastas vezes a ficção.

E porque não acontece só aos outros, vá, vamos lá preparar a dita da mochila. Sem esquecer o rádio a pilhas, porque ao moderno telemóvel só falta falar, certo, mas sem serviços de rede este tem tendência a perder o pio.

04 de Setembro, 2023

Preocupada Profissional

Inês R.

Eu preocupo-me. Com o futuro do planeta, com a sociedade do meu país, com as economias cá de casa, com o que vou vestir amanhã, com aquela dor de cabeça estranha, e, principalmente, com aquilo que não aconteceu, mas pode vir a acontecer.

Chorar sobre o leite que ainda não se derramou é uma especialidade que herdei da minha mãe e que tornei só minha. Se sei que não é saudável? Sim, com todos os ossos deste meu corpinho ligeiramente hipocondríaco. Se consigo fazer alguma coisa para o evitar? Às vezes. Mas conta na mesma, certo?

Na verdade, há vários anos que ando a trabalhar para melhorar esta particularidadezinha da minha pessoa (perturbação obsessivo-compulsiva incluida), mas não é algo de que me possa curar, antes algo que posso tentar controlar de forma a não me consumir a existência toda, e, felizmente, com alguns bons resultados.

Acontece que nos momentos mais difíceis da vida, torna-se, como direi, mais difícil negar passagem aos pensamentos intrusivos; aqueles que chegam sem avisar e se alojam na mente sem data para saír, sabem? Que nos garantem que aquele exame vai trazer más notícias, que aquela viagem vai acabar em tragédia, e que aquelas colegas de trabalho estavam mesmo a rir-se de nós, ao pé da máquina do café.

E atenção que sermos preocupados não é necessáriamente mau. Convém sabermos que as nossas ações têm consequências, que cumprir os limites de velocidade evita acidentes, e que uma mentirinha branca é preferível à "sinceridade brutal".

Ainda assim, deixar que o medo de viver nos governe a vida não é, certamente, a solução, e eu estou preparadíssima para tentar, mesmo afincadamente, quem sabe, a posibilidade de, talvez, o conseguir evitar.