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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

29 de Maio, 2023

Rabo de Peixe, a Série

Inês R.

"Ué home, qu'os pequenes fizerem um bom trabalhe!" *

À hora a que escrevo este texto, apenas tenho o primeiro episódio como referência, mas uma enorme vontade de ver os restantes.

Os atores não são Açorianos, - nem tentaram ser, graças ao Senhor Santo Cristo dos Milagres! - são, sim, muito bem escolhidos para os seus respetivos papeis e dão ao excelente guião uma ainda melhor reputação.

De notar que o uso "livre" de palavrões não me incomoda - ver este texto AQUI - mas também não é essa a razão pela qual o guião me mereceu o elogio acima.

A série ficcionaliza uma história real do passado recente de Rabo de Peixe, onde muitos kilos de cocaína deram à costa nesta zona da ilha de São Miguel, e consegue, muito eficientemente, gerar empatia nos espetadores por aqueles protagonistas; são jovens presos a uma realidade dura e, aparentemente, sem saída, a quem foi dada uma oportunidade vinda dos céus, ou do mar, digo, com todas as complicações que já se fazem adivinhar.

E, sim, também aparece uma senhora a fritar carapaus panados na "farinha" que deu à praia.

Se uma boa história é a base fundamental para qualquer projeto de ficção que queira ser bem sucedido, o aspeto visual é o recheio que nos faz "pedir mais uma fatia," e Rabo de Peixe já me fez saltar a dieta logo na primeira "trinca".

E que venham de lá mais bolos!

*não se preocupem, sou Açoriana por parte de mãe

Nota: aqui apenas faço uma pequena análise a uma obra de ficção, as minhas considerações sobre o uso de drogas fi-las de forma mais fundamentada, AQUI

22 de Maio, 2023

Isto Muda Tudo

Inês R.

"Se calhar, há mais homens a protagonizar, escrever e realizar filmes porque eles são, simplesmente, melhores a fazê-lo. Já pensaste nisso?"

Seria, realmente, uma excelente resposta para o problema, se fosse verdade. Acontece que não é, e há dados concretos para o provar.

O documentário This Changes Everything, de 2018, (disponível na Netflix) tem as estatísticas, para quem tiver curiosidade, mas, em geral, contam-se poucas histórias da experiência feminina (ou não masculina), e as mulheres que conseguem bons resultados raramente conseguem transformar esses sucessos em carreiras longas. 

Estamos a falar de cineastas que ganharam prémios - incluíndo Oscar's - e que depois deixaram de conseguir trabalho.

Se a razão não é a qualidade do que fazem, então, só pode ser o seu sexo. Porque não é garantidamente a falta de maneiras ou o temperamento difícil - já dos homens não se pode dizer o mesmo, e ainda assim...

E o problema aqui não é só a falta de oportunidades dadas às mulheres, mas o fato das histórias que todos vemos representadas no grande ecrã serem, essencialmente, as histórias de homens e meninos. É isso que todas as mulheres e meninas assimilam desde que se conhecem: que são essas as narrativas que merecem ser contadas.

Os meninos podem ambicionar ser polícias, presidentes, super-heróis, já as meninas serão sempre as namoradas dedicadas que têm a sorte de ser escolhidas para suas companheiras.

A generalização que aqui faço é, por um lado, um exagero propositado e, por outro, a mais pura das verdades.

A ficção produzida em Hollywood prefaz a grande maioria de todos os filmes e séries vistas em todo o mundo, pelo que não se pode relevar a influência que têm nas nossas vidas, principalmente, durante os nossos anos formativos.

Tudo isto me faz pensar numa situação que aconteceu numa aula prática de Psicossociologia, há coisa de vinte anos atrás, em que nos foi pedido que mostrassemos como lidariamos com um superior zangado e várias raparigas utilizaram pronomes masculinos durante a pequena encenação.

Terá sido apenas porque temos tendência a "seguir a manada," exarcebada pela ansiedade de estar debaixo de tantos olhares, ou porque, nas mentes daquelas miúdas de dezoito anos, fazia mais sentido que aquele cenário se passasse entre dois homens?

Seja como for, a verdade é que todas as vitórias no mundo do entretenimento que as mulheres têm vindo a conseguir, ao longo da história, nunca parecem levar a uma mudança significativa. Continuamos a ter de provar o nosso valor em tudo o que fazemos porque isto (seja que "isto" for) muda muito pouco ou nada.

This Changes Everything - trailer 

15 de Maio, 2023

Quem Diz o Que Quer...

Inês R.

"É esquisita, a gaja."

Era esta a resposta que eu devia ter dado ao meu colega de trabalho - com a voz do Ricardo Araújo Pereira e tudo, - naquela hora de almoço, há semanas atrás, quando ele insinuou que eu devo ser impossível de levar a jantar.

Tinha sido o comeback perfeito; calava o fulano e ainda saía por cima, porque se há coisa que me corre bem é dizer piadas com sotaque. E a modéstia, também sou bué forte nisso. 

Mas penso que não estou sozinha nesta minha aflição, certo? Todos temos um ou dois (ou dez) momentos guardados em que desejávamos ter dito a coisa certa, mas, infelizmente, a coisa certa só nos ocorreu horas ou mesmo dias depois e agora não há nada a fazer. A não ser martirizarmo-nos por um embaraço do qual, provavelmente, só nós nos lembramos. Mas vamos lá convencer a nossa ansiedade disso...

Ainda penso naquela viagem de carro, a caminho de uma atuação da Tuna, em que quiz fazer um brilharete na presença da minha crush e não consegui lembrar-me nem do nome do filme, nem de nenhum dos atores. Double Jeopardy. Tommy Lee Jones. Ashley Judd. Oh, well...

Agora, o que me dava mesmo muito jeito era que vocês, maltinha fixe deste canto das Internetes, partilhassem as vossas "brancas" nos comentários; mas as boas, aquelas em que ainda pensam quando estão deitados na cama com insónia e a enumerar todos os falhanços da vossa vida.

Vá lá. Quanto mais não seja, vai servir para percebermos que, afinal, não é assim tão sério. 

08 de Maio, 2023

Perdeu-se

Inês R.

Perdeu-se uma meia verde que fazia par com uma azul, antes de ter sido colocada numa máquina de roupa branca com lixivia por engano.

Tem um buraco ali pelo dedo grande - ou pelo mindinho, dependendo do pé em que é calçada - e o punho perdeu a elasticidade há vinte lavagens atrás, pelo que tem tendência a escorregar até ao artelho.

Pensando bem, a quem a encontrar, pede-se, por favor, que a deite fora.

01 de Maio, 2023

O Dia-a-Dia Desta Trabalhadora

Inês R.

Como disse o poeta: "Muda de vida, se não estiveres satisfeito."

Eu percebo que a realização profissional parece um capricho das novas gerações, que "às vezes, é preciso pôr comida na mesa," mas a insatisfação com o trabalho reflete-se em todas as áreas da nossa vida e não deve ser colocada em segundo plano.

Desde que deixei a farmácia, pareço outra. Nas palavras de um familiar: entro e saio de casa com um sorriso nos lábios. E sempre que me perguntam como correu o dia, só tenho a dizer "bem". 

Longe estão os tempos em que me achava presa a uma realidade que, mesmo que inadvertidamente, fui eu que escolhi, pelo que não teria remédio a não ser cumprir a minha "sentença".

O primeiro passo foi perceber que se queria escrever só tinha, bem... de escrever. Ao contrário de uma carreira na lei (e tal como na política), não precisava de tirar um curso para o fazer, nem por isso, e foi exatamente isso que fiz. 

Todos os pequenos sucessos que tive na última década são conquistas que vão comigo prá cova e ainda não arrumei as botas, nem perto disso.

Depois, foi preciso decidir que não me importava com o que os outros iam dizer - e disseram, ó se disseram - porque a vida é demasiado curta para desperdiçar e muito longa para apenas sobreviver.

E se no futuro perceber que é preciso, volto a fazê-lo, porque estou "sempre a tempo de mudar".