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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

24 de Abril, 2023

O Mistério do Pólen Maldito

Inês R.

O pólen saiu à rua.

O pólen saiu à rua e deixou um rasto de amarelo por todo o lado; nos carros, nos parapeitos das janelas e nas narinas dos demais.

É a garganta que arranha, o nariz que pinga; há tosse, espirros e olhos a lacrimejar, e a ressaca dos anti-histamínicos e das noites por dormir.

Se ao menos houvesse um herói que fizesse frente a este vilão...

Um defensor dos fracos e imunodeprimidos, com experiência na proteção de bocas e narizes; num tecido branco ou azulado e um elástico mais ou menos apertado, que pudessemos levar à rua, nos dias e sítios mais complicados.

Mas, não, não me ocorre nada que possa ajudar... E agora resta à malta sofrer horrores à conta dum problema que não tem, mesmo - mas mesmo! - forma de evitar.

17 de Abril, 2023

Conselhos para a Vida

Inês R.

"Tenta não falar mal de alguém nas suas costas."

Porque não irias gostar que te fizessem o mesmo, mas, principalmente, porque a pessoa com quem estás a falar pode conhecer a outra...

"Nunca recuses um copo de açúcar a um vizinho."

Porque um dia podes ser tu a precisar, mas, principalmente, porque podes aproveitar a deixa para lhe pedir um favor ou para mencionar aquele comportamento irritante de que estás há meses para te queixar...

"Faz uma boa ação, só porque sim."

Porque vais sentir-te bem contigo próprio, mas, principalmente, porque há sempre a possibilidade de alguém o partilhar nas redes sociais e conseguir-te os tão desejados 15 minutos de fama...

"Não ofereças uma prenda que te foi oferecida a ti."

Porque uma prenda deve ser personalizada, tanto quanto possível, mas, principalmente, porque podes acidentalmente oferecê-la de volta a quem ta deu a ti...

"Evita falar ao telefone enquanto conduzes."

Porque o perigo de acidente é real, mas, principalmente, porque de fora pareces um maluquinho a falar sozinho. E o mesmo vale para quem canta com o rádio...

Lista em construção. Aceita-se sugestões e/ou críticas construtivas. 

10 de Abril, 2023

Não Foi Bem Isso Que Eu Disse...

Inês R.

Eu: "Acho que haver leis que protejam os animais é algo muito positivo."

Eles: "Tristeza, pôr a vida dum cão acima da vida duma pessoa..."

 

Eu: "Já não era sem tempo que se começasse a aceitar a fluidez de género e a deixar que as pessoas vivam a sua verdade."

Eles: "Agora querem obrigar a gente a usar pronomes inventados e a mudar a língua Portuguesa..."

 

Eu: "Qualquer tipo de discriminação deve ser combatido."

Eles: "A palavra "gorda" não é uma ofensa, é um adjetivo. E deixem de ser choramingas, principalmente, quando há problemas graves a acontecer no mundo." 

 

Verdade, há situações seríssimas a acontecer um pouco por todo o planeta, neste preciso momento; consequências das alterações climáticas, desastres naturais, guerras (aliadas às desigualdades sociais e aos interesses políticos e religiosos).

Mas isso não implica que não possamos alertar para, e tentar solucionar, outros problemas que, apesar de comparativamente menores, afetam muitos de nós de formas concretas e com efeitos duradouros.

Não podemos, nem devemos, minimizar a dor de alguém que acabou uma relação, ou perdeu o emprego, ou foi vítima de um boato maldoso, só porque algures no mundo há pessoas desalojadas por um terramoto ou a lutar contra uma doença terminal.

Podemos, sim, revoltar-nos contra a falta de acesso a água potável que afeta milhões de pessoas no mundo E, simultaneamente, apoiar uma vítima de cyber bullying com um comentário solidário.

A Internet - e, principalmente, a anonimidade que esta garante - consegue fazer exacerbar a tendência para a falta de empatia, mas foi também pelas redes que li um conselho que vou partilhar convosco agora: tentem sempre ser educados e compreensivos, porque nunca sabemos pelo que o indivíduo do outro lado da conversa (em pessoa ou online) está a passar.

Posto isto, vou seguir a minha própria recomendação e tentar (mas tentar apenas) considerar a possibilidade de que as pessoas que fazem os comentários acima mencionados têm boa intenção ou apenas não têm a informação necessária, mas, neste caso, não será da sua responsabilidade, também, fazer com que assim não seja?

03 de Abril, 2023

O Que Nasceu Primeiro?

Inês R.

O álcool ou o alcoólico?

Eu sei que a resposta parece óbvia; o segundo não existe sem o primeiro, mas a verdade é que o álcool sozinho não faz o alcoólico.

A adicção envolve uma tempestade perfeita de circunstâncias especiais onde o social, o fisiológico e o emocional se combinam de forma a definir que certos indivíduos nunca consigam "beber só um copo".

Mas a solução não é com certeza pregar a abstinência e sabemos muito bem que a proibição não resulta.

As substâncias psicoativas não são fundamentalmente más (ainda que potencialmente muito perigosas) e vão sempre ter procura, seja como adjuvante criativo (e temos clássicos de rock suficientes para o comprovar) ou pelos seus efeitos positivos no tratamento de doenças ou distúrbios físicos ou mentais (o que é um facto, não uma suposição). Mas a diferença entre uma utilização recreativa ou terapêutica e uma que se defina como abusiva pode estar no contexto em que acontecem.

Nos anos 70 foi realizada uma experiência com ratos de laboratório onde os bichos foram colocados numa gaiola com acesso a uma tina com água onde foi diluída heroína ou cocaína e outra apenas com água. 

O resultado? Assim que os ratos deram com a droga, voltaram à tina uma e outra vez até que o consumo compulsivo os levou à morte.

Mas o ambiente aqui testado não recriava a realidade de todos os consumidores de heroína ou cocaína, e foi, então, que a experiência foi repetida numa gaiola onde os ratos, para além das mesmas duas tinas com água, tinham a possibilidade de brincar, exercitar-se e ter sexo.

Pois que os resultados foram muito diferentes dos primeiros; desta feita, os animais preferiram a água simples, apenas "molhando o bico" nas drogas, e nunca foi registada uma overdose.

Fazer parte de uma comunidade, sentir-se realizado pessoal e profissionalmente, são tudo questões fundamentais para evitar que "uma trip de heroína" aos fins-de-semana se transforme numa viagem sem volta.

Mas, mais que tudo, é preciso que se fale no assunto de forma clara e objetiva porque a adicção é um problema sério que não se resolve com populismos batidos nem acontece só aos outros.

Fontes:

What Does "Rat Park" Teach Us About Addiction? - artigo AQUI

Rats Prefer Social Interaction to Heroin or Methamphetamine - artigo AQUI