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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

27 de Março, 2023

O Negócio do Amor

Inês R.

Parece que o valor médio de um casamento em Portugal fica acima dos 15 000 euros. Perdão?!

Ó migos, se eu tivesse 15 000 euros casava-me! Quer dizer... vocês percebem.

15 000 euros é um carro jeitoso em segunda mão, é um ano de trabalho de muito boa gente, são aquelas obras que estamos a adiar há anos, é um bom pé-de-meia, mas não é, garantidamente, um valor para se gastar todo num único dia.

Compreendo que nenhum casal escolha gastar esta enormidade; os preços de tudo o que está associado a uma cerimónia de casamento são, na minha opinião, inflacionados de forma pouco honesta e não há muito que a malta possa fazer para o evitar. A não ser tentar mentir às lojistas: "Não, este vestido branco é mesmo para eu levar à cerimónia da Bênção das Pastas da minha sobrinha."

Agora, também não estou aqui a advogar que deixem de haver casamentos. Casem-se todos os que o queiram fazer! Casem-se as vezes que quiserem e com quem bem entenderem. Só não esperem que os convidados lhes ofereçam de "visita" o equivalente ao que decidiram gastar por pessoa na receção e copo-de-água.

Cada vez mais um convite de casamento é recebido com um sorriso amarelo de quem até está feliz pelos noivos, mas preferia não ter de pagar para ir a uma festa que não escolheu, na companhia de pessoas que preferia evitar.

Mas é o que temos. Boa época de casamentos para todos!

20 de Março, 2023

Ata de Assembleia Geral nº 1

Inês R.

Ao dia doze de março do corrente ano de dois mil e vinte e três, reuniu no corpo de Inês Reis a assembleia geral do SARS-CoV-2.

Por haver quórum, a reunião teve inicio imediatamente assim que a Inês abriu os olhos essa manhã, com a seguinte ordem de trabalhos:

Ponto 1 - Decisão sobre celebrações do terceiro aniversário pela massa associativa;

Ponto 2 - Planeamento de visitas de estudo;

Ponto 3 - Encerramento da assembleia.

Ficou, assim, decidido o seguinte:

Ponto 1 - O terceiro aniversário será celebrado com toda a pompa e circunstância que o orçamento permitir. Todos, mas todos, os sintomas que passarem pelos pingos da chuva das doses de vacina tomadas são para colocar em ação. Sem exceções.

Ponto 2 - Todos os corpos que apareçam na proximidade da Inês são para tentar visitar. De notar que a hospedeira tem o hábito pouco recomendável de usar máscara e lavar as mãos frequentemente, pelo que, se pede aos associados que sejam criativos. Tosse e espirros são a vossa prioridade.

Ponto 3 - Sem que tivessem sido levantadas outras questões, o presidente da assembleia deu a mesma por terminada pelas vinte horas do dia dezanove de março do mesmo ano. 

13 de Março, 2023

Óscares 2023: o meu bingo

Inês R.

Este texto foi escrito duas noites antes da cerimónia com intenção de ver o quão certas estavam as minhas previsões. E, não, não têm nada a ver com os vencedores*.

São elas:

  • o apresentador vai fazer, pelo menos, uma piada com chapadas;
  • um vencedor vai ser tão surpreendido pela vitória que vai largar um palavrão em direto, enquanto chora baba e ranho;
  • um vencedor vai tropeçar no seu vestido a subir ao palco;
  • um dos filmes mais nomeados vai levar para casa apenas um daqueles Óscares mais reles, que nem passam na televisão;
  • um derrotado vai ser apanhado pelas câmaras com o sorriso mais amarelo da história;
  • um vencedor vai aproveitar o seu discurso de agradecimento para passar uma mensagem política;
  • e apesar de valerem tanto quanto uma mansão em Hollywood, alguns dos fatos das celebridades vão ser feios que dói.

*Sai um "Ah, patrões!" ou um "Chulos, pá!" caso o Ice Merchants tenha, respetivamente, ganhado ou perdido.

06 de Março, 2023

O Período, ou a Razão #327 Porque Sou Feminista

Inês R.

Em pleno século 21, ainda há enormes desigualdades na forma de lidar com o sangramento não consentido com o qual metade da população mundial se tem de ocupar mensalmente e ainda me perguntam porque é que sou feminista.

Quando tive o meu primeiro, já me tinha sido entregue informação e umas amostras de pensos higiénicos e tampões que facilitaram imensamente a conversa com a minha mãe. Mas ela própria, que tinha tido uma santa como mãe, começou por usar uns paninhos turcos que eram lavados à mão e secos no estendal, à vista de todos.

(Parece que era comum prestar atenção ao estendal das mulheres acabadas de casar para saber das novidades. Uma em particular continuou a estender os turcos depois de grávida porque "que se lixem as cuscas".)

Mas há mulheres, meninas e pessoas, em todo o mundo, que não têm acesso a produtos sanitários durante a menstruação ou sequer a informação sobre o que fazer. Outras há que não conseguem suportar os custos associados a esta condição biológica fora do seu controlo, porque o material é taxado como um produto de luxo, vá-se lá saber porquê.

Há tempos vi um excelente documentário sobre períodos na Netflix* que me abriu os olhos. Em certas partes da India, por falta de acesso, e também por questões culturais e religiosas, perdem-se dias de escola ou trabalho, há discriminação e ignorância e usam-se trapos velhos e sujos para lidar com este "castigo".

E, certo, esta situação em particular precisa de muito mais que um texto bem intencionado num cantinho da Internet para começar a ser resolvido, mas há pequenas atitudes que todos podemos tomar e que terão, com certeza, efeitos práticos nas vidas das gerações futuras.

Eu faço aqui a minha sugestão: que se fale de menstruações abertamente em nossas casas e não só com quem as tem; que rapazes e homens saibam como ajudar sem pudores e percebam o quão complicado, bonito, estranho e maravilhoso é a merda do período.

*Podem vê-lo na página de YouTube da Netflix, AQUI, na sua integra