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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

28 de Junho, 2021

O Outro Grande Acontecimento de 2020

Inês R.

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Relatório de Missão #127:

Cabe-me reportar que a abordagem minimalista da falsa aparição acidental não resultou. Repito: a missão falhou.

Parece que as visões de objetos voadores não identificados foram, simplesmente, consideradas pouco importantes, perante a atual crise sanitária que assola o planeta, ou classificadas como tentativas do governo para esconder experiências ultra-secretas com aeronaves.

A nossa presença continua reconhecida, como de costume, apenas por bloggers da dark web que acreditam que o nosso único propósito é a colocação de sondas nos orifícios das suas carapaças humanas.

Considerando o fato das missões anteriores terem falhado pelos excessos cometidos com o espetáculo de luzes durante a cerimónia de apresentação – o que desorientou e, consequentemente, desacreditou todas as testemunhas oculares – gostaria de, respeitosamente, sugerir que coloquemos em ação o Plano de Último Recurso.

Estou confiante que apenas conseguiremos convencê-los da existência de extraterrestres se aparecermos, literalmente, à sua frente. E, ainda assim, existe a possibilidade da nossa presença ser classificada como fake news.

Gostaria, também, de requisitar permissão para me manter na órbita Terrestre enquanto aguardo por instruções sobre como proceder doravante. Sucede que iniciei a visualização de uma história ficcional serializada sobre guerras de tronos bastante violentas que tenho muito interesse em assistir até ao seu término, pois não espero ficar desapontada.


Fim de relatório.

Imagem: By George Stock [4] - Web page: www.cia.gov; Image: [3], Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1559408

24 de Junho, 2021

Olhos Azuis/Olhos Castanhos

Inês R.

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Atenção: Peço aos leitores de olhos azuis que deixem, imediatamente, de ler este texto.

Bem-vindos, amigos de olhos castanhos, verdes, e afins.

Agora que estamos na companhia dos nossos pares – e sem a possibilidade dos “outros” virem conspurcar a nossa conversa – falemos abertamente sobre o que deve ser feito para contrariar a crescente tendência para a confraternização entre “azulados” e pessoas de bem.

 

Será por aqui que a minha fachada cai por terra.

A todos os que estavam, de fato, à espera de continuar a discussão acima mencionada, espero que estejam, neste momento, a reconsiderar todas as escolhas de vida que vos fizeram chegar a este ponto.

Aos restantes, deixem-me que vos apresente, ou relembre, a famosa experiência social feita por uma professora primária Americana na década de 1960 e que despoletou tantas críticas negativas como louvores fervorosos.

No rescaldo do assassinato do Dr. Martin Luther King, Jane Elliott propôs à sua turma do terceiro ano uma experiência para que os seus alunos – todos eles brancos – pudessem sentir na pele o que é ser discriminado por uma característica física, impossível de alterar.

Depois de separar todas as crianças de olhos azuis das restantes (de olhos castanhos e verdes) e de as obrigar a usar braçadeiras, que as identificavam como diferentes, a professora começou a enumerar todas as qualidades das pessoas com olhos castanhos: “são melhores pessoas,” “são mais limpas e espertas,” etc., oferecendo explicações falsas, mas cientificamente plausíveis.

Os comportamentos discriminatórios entre os alunos rapidamente se fizeram sentir; surgiram acusações de que os “azulados” poderiam ter doenças estranhas e que o melhor seria não haver ajuntamentos.

Foi também denotada pela professora uma maior confiança, e consequente aproveitamento escolar, por parte dos alunos da “classe superior”.

Dias depois, a experiência foi repetida mas com os papéis invertidos. Compreensivelmente, os alunos de olhos azuis foram mais benevolentes com os seus colegas; provavelmente, por terem sentido na pele as consequências de um ostracismo injusto.

Concluída a experiência, a professora Elliott ficou satisfeita com a aparente consciencialização dos seus pupilos, e a notícia rapidamente se espalhou pela cidade e depois pelo mundo. Mas, não sem a sua quota-parte de criticas.

Se havia vozes furiosas a defender a honra das crianças envolvidas, havia também os que recorreriam à violência contra Jane e a sua família.

Ainda assim, esta professora reformada acabou por fazer carreira a conduzir este seu exercício pelas mais diversas instituições mundiais e continua, até aos dias de hoje, a divulgar a sua mensagem contra a discriminação.

E quer concordemos ou não com o método utilizado – principalmente, por se tratarem de crianças tão novas – a verdade é que a luta contra o racismo precisa de menos slogans bonitos e de mais acções com resultados concretos.

Lesson of a Lifetime – Smithsonian Magazine

Imagem: By Karen Arnold - http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=42302&picture=eyes-of-woman-clipart, CC0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=31247438

21 de Junho, 2021

Equipa do Coração

Inês R.

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Geralmente, não preciso de ver um jogo da selecção para saber como está o resultado. Basta-me ouvir os gritos que atravessam a casa – e a vizinhança, acredito – e fazer as devidas deduções.

Todos conhecemos aquela pessoa que parece estar a um fora-de-jogo mal marcado de ter um ataque cardíaco em todas as partidas de futebol a que assiste, mas, então, não é que há, mesmo, uma maior probabilidade de se ter um evento cardiovascular potencialmente fatal por causa do desporto rei…?

Se soubesse que fazia alguma diferença, mostrava ao meu pai – exemplo claro dos espécimes acima referidos – um dos estudos ou artigos que abordam esta questão, mas é muito difícil rebater o argumento de que ele está só a “apreciar o jogo”.

É certo que indivíduos com problemas cardíacos terão maior predisposição para sofrer um evento agudo numa qualquer situação de stresse elevado – o que não acontece apenas quando o Benfica perde em casa com o lanterna-vermelha – mas, ainda assim, seria importante saber como limitar este tipo de reacções extremas a situações que, convenhamos, não trazem nenhum benefício para as nossa vidas, para além dos dois dias de gabarolice nas redes sociais depois duma vitória.

E já que o argumento de que “o futebol é só um jogo” raramente funciona, talvez tornando a ameaça de um ataque cardíaco mais real faça alguma mossa. Salvo seja.

Can Watching Sports Be Bad For Your Health? – Harvard Health Publishing

The association between watching football matches and the risk of cardiovascular events: A meta-analysis - Pubmed

Imagem: By Unknown author - Scanned from Athletics and Football, by Montague Shearman, edited by Longmans, Greens & Co, London, 1894, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=42146631

17 de Junho, 2021

O Véu Pintado – Uma Análise Extremamente Engraçada e de Apenas Alguma Utilidade

Inês R.

O Véu Pintado é a outra história de amor em tempos de cólera. E tem o Edward Norton como protagonista. Quem é que ainda não está convencido?

Pronto, eu conto mais um bocadinho.

O nosso Eduardinho é um médico sem grande consequência que se casa com uma Naomi Watts mimada que só quer fazer pirraça com os papás.

Depois de casados, o migo leva a esposa para a China e, surpresa, surpresa, a moça apanha a maior seca da década de 1920, sozinha no modesto lar do casal. Mas tudo muda quando a sô dona Naomi arranja um amante, também ele casado, para a ajudar a passar o tempo.

Com o que ela não contava era que o esposo descobrisse o arranjinho e se tornasse num vilão de romances de cordel. Diz ele: “É na boa. Eu dou-te o divórcio se o outro deslargar a mulher e se casar contigo. Se não, vens comigo pó meio dum surto de cólera, qué por mor da tosse.”

Pois que, semanas depois, lá eles chegam a uma aldeia do interior da China onde só há um vizinho e uma catrefada de gente falecida por cólera, para poderem viver infelizes para sempre.

Mas a raiva e o ressentimento são engraçadas, pois trazem também, e pela primeira vez, a honestidade para o relacionamento.

E enquanto o casal se vai conhecendo, o sô-tor lá vai direccionando as suas frustrações para a criação de um sistema de canalizações rudimentar, à base de canas e outras cenas, e assim evitar que a população consuma água contaminada e continue, digamos que, a falecer de cólera.

Quem estiver à procura de um final feliz pode parar o filme na cena do rio e ir à sua vidinha. Quem quiser ver o resto, tem de se lembrar que a cólera é uma doença tramada, da qual eu tenho estado a falar, literalmente, desde o primeiro parágrafo, e que a história se passa no início do século passado.

Na verdade, ainda se morre, e muito, de cólera, e tudo porque ainda há muitos milhões de pessoas sem acesso a água potável em todo o mundo (ver este post AQUI para saber como ajudar), mas eu não estou, de todo, a usar uma análise cinematográfica profissionalíssima para alertar para esta crise mundial. Juro.

Adiante, vejam o filme. É porreirinho.

14 de Junho, 2021

À Sua Saúde

Inês R.

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Eu abro uma torneira. Ela falta à escola para caminhar durante horas e trazer alguns litros de água suja para a família. Eu puxo o autoclismo. Ela evita aliviar-se na rua depois de escurecer para não ser apanhada por predadores.

Em todo o mundo, mais de setecentos milhões de pessoas não têm acesso a água potável. E, infelizmente, as doenças resultantes do consumo de água contaminada conseguem matar mais pessoas que os conflitos armados.

As mulheres e meninas são as principais responsáveis pela coleta de água, o que não só as impede de estudar e trabalhar a tempo inteiro como acarreta imensos perigos.

E se a responsabilidade de garantir o acesso a água potável e a uma rede de esgotos funcional deveria ser dos próprios governos, a realidade é que comunidades inteiras dependem da solidariedade alheia.

Organizações como a Charity: Water ou a Water.org direcionam os donativos que recebem para garantir o acesso a água potável a estas pessoas e, assim, transformar as suas vidas e as das gerações futuras.

Qualquer doação ajuda, mesmo que não possamos assumir o compromisso de o fazer mensalmente, e há mesmo a opção de “doar” o nosso aniversário à causa.

Para uma análise imparcial destas organizações podem consultar os sítios Charity Navigator ou Charity Watch.

Imagem: By US Army Africa from Vicenza, Italy - J-3003-SPT-94-04-0004-0794 - SETAF HISTORICAL IMAGE ARCHIVE, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=70444617

10 de Junho, 2021

Sobremesa Simples com Apenas 1 Ingrediente

Inês R.

 

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Ingredientes:

1 peça de fruta à escolha

Preparação:

1 – Lave a peça de fruta

2 - Dependendo da fruta escolhida, pode haver necessidade de remover a casca e/ou o caroço da mesma

3 – Coma a fruta

 

Para mais receitas como esta, vá a www.queriasmainadaqueeramreceitassócom1ingrediente.tuga

 

E, certo, uma fatia de bolo de bolacha marcha sempre bem, mas haverá lá almoçarada de Verão mais bem terminada do que com uma talhada de melão maduro ou com sumo de melancia a pingar pelos queixos?

Imagem: By Kgbo - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=93885492

07 de Junho, 2021

Prescrição da Semana: Comédia Stand-Up

Inês R.

Porque a Segundafeirite é uma patologia séria que deve ser tratada como tal, aqui vai a prescrição desta semana: Comédia Stand-Up na Netflix.

Ari Eldjárn

Para quem só quer esquecer os seus problemas por um bocado, mas tem crianças constantemente a entrar e a sair do perímetro, tem aqui este fulano com nome de personagem do universo Marvel com um sentido de humor apurado. E o bónus adicional de fazer descer os países nórdicos do seu pedestal e vir cá abaixo beber um copo com o povo.

Taylor Tomlinson

Para quem precisa de rir das relações falhadas de terceiros – para esquecer a sua – e tem um ou dois traumazitos de infância para enterrar no subconsciente, não há nada como passar um serão a apontar para o ecrã e a dizer “bruxa”.

Daniel Sloss

Para quem precisa de exorcizar todos os seus demónios, em pouco menos de uma hora, e ainda rir das próprias imperfeições, sem ter de ir a uma única sessão de terapia, recomendo aqui o Daniel e o seu humor negro. Mas ficam já avisados que vão à vossa responsabilidade.

03 de Junho, 2021

A Quadra

Inês R.

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Arrumámos os Santos em casa

Não há festas pra ninguém

A sardinha até pode ir à brasa

Já partilhar, não convém

 

Com medo do bicho Covid

Matou-se a alegria do povo

Proibiram-se as gastroenterites

E as lavagens ao estogo

 

Não se encontra uma jola a sete euros

Num copo plástico da Sumol

Nem perdemos duas horas

Pa estacionar no quintal

 

Não há visitas à farmácia

Daquelas do “dia seguinte”

Nem ninguém chama a polícia

Por brigas ond’um fica sem dente

 

Pera lá, que em calhando

A coisa até corre bem

E, com sorte, daqui a um ano

Não há Santos pra ninguém

 

Imagem: By Peter Grabowski - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=51270605