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Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

Em Letras Pequeninas

Podem tirar a rapariga da farmácia, mas não podem tirar a farmácia da rapariga. Salvo seja…

29 de Março, 2021

O Cientista Vai Nu

Inês R.

Lab_coats.jpg

A relativamente recente mas já clássica polémica do “afinal parece que sim” da recomendação do uso de máscara durante a pandemia, constitui, curiosamente, uma excelente razão para confiar na ciência.

Regra geral, (porque a ovelha ranhosa cria-se bem em qualquer campo) a malta da bata branca só faz recomendações com base nos dados de que dispõe na altura; o que significa que, na presença de novas informações que levem a diferentes conclusões, o cientista pode, se preciso for, contradizer-se em prol da verdade e do bem geral.

Tanto é aquilo que hoje conhecemos que pode parecer que já não há mais nada para descobrir, mas, a verdade, é que há todo um universo de mistérios por desvendar e a probabilidade de um especialista/doutor/perito aparecer na televisão a afirmar exatamente o contrário daquilo que disse meras horas/dias/semanas antes é grande – principalmente, quando o assunto são vírus acabadinhos de sair do forno.

Mas não quero com isto dizer que devemos aceitar erros grosseiros sem apontar o dedo aos culpados. Sem querer comparar um microbiologista com um super-herói: com grandes poderes vêm grandes responsabilidades e ninguém, repito, ninguém está imune à mão justa do meme. Porque a Internet dá, mas a Internet também tira.

Em conclusão, algumas contradições não só são boas como se recomendam e, em matéria de saúde pública, a sua ausência deverá sempre fazer-nos franzir o nariz como se alguém tivesse acabado de “largar um”.

Imagem: By Pi. from Leiden, Holland - Lab 15 - Lab Coats, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4477452

22 de Março, 2021

O Miar da Gata // Os Desafios da Abelha

Inês R.

Esta semana, n'Os Desafios da Abelha, foi-nos pedida uma história que começasse com a frase "Era uma vez uma mulher que quando acordou do coma só miava". Esta é a minha. 

Era uma vez uma mulher que quando acordou do coma só miava. Mas, para seu grande choque, nenhum dos médicos ao seu redor lhe ligava. Foi apenas quando se calou por uns momentos, que reparou, finalmente, nos sons que saíam das bocas dos demais pacientes. Enquanto uma senhora de idade cacarejava, de pé, numa cama articulada, uma jovem rapariga uivava ao sol do meio-dia, na janela empoleirada, e com a bata de hospital já meia rasgada. Com o coração quase a sair pela boca, cerrou os olhos e imaginou-se num asilo, a menos de três quartos do caminho para chegar a louca. Mas, felizmente, acordou do pesadelo muito antes de lá entrar e confessou – ainda que a medo – saudades da sua efémera habilidade para miar.

22 de Março, 2021

Inspired/Inspirada - Dia Mundial da Poesia

Inês R.

I am my biggest critic when I’m down

I know exactly where to hit

Which words are gonna fit

Right in that little spot in my brain

That deals with disappointments and what not

 

The years have also brought me

Another certainty

Apart from a difficulty to sleep through the night

I know

That this whole

Negativity never lasts more than one fight

With the pillow

 

And then a whisper of a thought inspires

I seem to cross and uncross all the right wires

And the words drip

Out of my fingertips

Like wine

And then I’m happy again

For a while

 

Eu sou a minha maior crítica quando estou em baixo

Sei exatamente onde pressionar

Que palavras vão entrar

Naquele pequeno ponto do meu cérebro

Que lida com desapontamentos e outros que tais

 

Os anos também me trouxeram

Outra certeza

Para além da dificuldade em dormir toda a noite

Eu sei

Que todo este negativismo

Nunca dura mais que uma luta

Com a almofada

 

É então que uma réstia de uma ideia inspira

Pareço conseguir cruzar e descruzar todos os fios certos

E as palavras pingam

Das pontas dos meu dedos

Como vinho

E eu sinto-me feliz outra vez

Por um bocado

18 de Março, 2021

Sorria, está a ter um AVC

Inês R.

Não, não estou a rir de coisas sérias. A verdade é que, em caso de suspeita de Acidente Vascular Cerebral (AVC), uma das coisas que devemos fazer é pedir à pessoa em questão para sorrir. Um sorriso assimétrico (de boca ao lado) pode indicar que estamos na presença de um AVC.

Não confundir, é claro, com a “boca de dentista” que é muito chata, sim, mas inofensiva.

Um discurso arrastado é outro dos sinais mais comuns de AVC, pelo que, qualquer dificuldade em falar ou confusão mental (como não conseguir dizer o próprio nome, corretamente) devem ser levadas muito a sério.

Já não saber o nome completo do cônjuge pode, ou não, ser considerado um sinal relevante para o diagnóstico de AVC, mas sê-lo-á, com certeza, para a relação amorosa do paciente.

Falta de força num dos braços é outro sinal muito frequente e, talvez, o mais amplamente conhecido. E, para o identificar, basta pedir à pessoa que tente levantar ambos os braços; em caso de AVC, apenas conseguirá levantar um dos dois (e a gente quer sempre um “T” bem feitinho).

É também comum que uma vítima de AVC se queixe de falta de equilíbrio e/ou de visão nublada.

Mas uma qualquer combinação destes sinais e sintomas deve ser motivo mais do que suficiente para ligar, de imediato, para o 112.

Link para página do INEM com mais informação, aqui.

15 de Março, 2021

Inimigo Púbico Número Um

Inês R.

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Afinal parece que o pipi quer-se agasalhado.

Sermão à parte, a minha ginecologista até se fez entender bastante bem quando me explicou que os pelos estão lá por uma razão, que “protegem contra infeções” e que ninguém exige que cultivemos um matagal daqueles a roçar o risco de incêndio, mas que um bom centímetro ou dois já faz o seu papel suficientemente bem.

Compreendo perfeitamente quem prefira manter a sua zona íntima qual rabinho de bebé e não quero, de todo, soar a moralista –  até porque já existe por aí gente suficiente a querer ditar o que as mulheres devem fazer com a sua zona genital – mas achei que devia partilhar o conselho.

Quiçá, um dia destes, estaremos aqui a discutir ideias de como estilizar os pelos púbicos.

E, aqui para nós que ninguém no ouve, já estava na altura dos mohawks voltarem a estar na moda.

Imagem: By Crisco 1492 - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=44704958

11 de Março, 2021

SARS-CoV-2 Primavera-Verão 2021

Inês R.

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As tendências para esta estação quente serão cores vivas, calças largas e duas doses de vacinas.

Talvez seja o longo ano de pandemia a despertar no povo este desejo de se vacinar, mas eu diria que esta fase de boa publicidade que as vacinas parecem estar a passar é de aproveitar e espremer até ao fim do êmbolo.

Quem sabe se a moda pega e a malta volta a vacinar os filhos, como nos bons velhos tempos, e deixam de haver grupos nas redes sociais dedicados àquele único “estudo” por aquele médico que perdeu a licença por inventar resultados.

Ah, e, é claro, que o look máscara-chic da estação passada é para manter.

Imagem: By Database Center for Life Science (DBCLS), CC BY 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=27719592

08 de Março, 2021

Leve 2, Pague 3

Inês R.

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Continue a comer tudo o que quiser e a fazer absolutamente nenhum exercício físico e perca todo o peso que desejar!

A maioria dos suplementos dietéticos no mercado apenas apresenta resultados se os complementar com uma alimentação cuidada e atividade física regular.

Mas não o Pocket Slim.

Com o Pocket Slim poderá continuar a apreciar a sua sobremesa preferida de Domingo, todos os dias da semana, e a fazer todas as maratonas de sofá que o seu rabiosque permitir e, em pouco tempo, deixará de reconhecer a pessoa que o olha do lado de lá do seu espelho.

Com apenas seis cápsulas e duas saquetas por dia durante três a cinco meses, todas as suas bolsas irão esvaziar a olhos vistos. Incluindo as de gordura.

Não espere mais, dirija-se à farmácia mais próxima e tome a melhor decisão possível enquanto é bombardeado por falsas promessas de resultados rápidos e duradouros de, absolutamente, todos os lados.

E se adquirir o Pocket Slim nos próximos 30 dias, poderá, ainda, usufruir de um descontozinho sobre um preço ridículo que em qualquer outro estabelecimento comercial seria considerado roubo.

Mais, se não ficar completamente satisfeito, devolveremos a totalidade do seu dinheiro. A sério! Pelo que, não há necessidade nenhuma de ir para as redes sociais falar mal do nosso produto.

Pocket Slim: o segredo está, literalmente, no nome.

Imagem: By W.carter - Own work, CC0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=88232966

04 de Março, 2021

A Chamada

Inês R.

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EXT. RUA – DIA

Duas AMBULÂNCIAS e um CARRO DE BOMBEIROS tentam fazer inversão de marcha numa rua praticamente vazia, sob o olhar curioso de alguns moradores.

No interior de uma das AMBULÂNCIAS, um BOMBEIRO fala com uma OPERADORA do centro de despacho.

BOMBEIRO

Não consigo fazer em menos de quinze.

 

OPERADORA

Faz o melhor que puderes.

Despachámos as últimas viaturas p’ra aí.

Não tenho mais ninguém.

 

BOMBEIRO

Rais parta isto!

O Bombeiro liga a sirene e acelera por cima do passeio na direção oposta. Os outros seguem-lhe os passos.

 

INT. APARTAMENTO/JANELA – DIA

Do outro lado da rua, engalfinhados sobre o parapeito da janela, TRÊS ADOLESCENTES seguem, aos risinhos, o que se passa, enquanto filmam a emergência que não foi.

Imagem: By French journalist and encyclopedist Adolphe Bitard - Bibliothèque nationale de France, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3384358

01 de Março, 2021

Gripe 0 – Coronavírus 2.5M

Inês R.

1918_Spanish_Flu.png

Posso pedir-vos um favor pequenino?

Quando a pandemia for dar uma volta ao bilhar grande, e a malta deixar de ter um ataque de pânico de cada vez que alguém toca no nosso agrafador, será que podemos todos, enquanto sociedade, normalizar o uso da máscara comunitária sempre que estivermos com sintomas gripais?

Ao que parece, em conjunto com outros fatores, o uso generalizado de máscaras contribuiu significativamente para que os casos de Gripe, nesta última época, tenham ficado muito abaixo do habitual; tanto em Portugal como no resto do mundo.

Agora, o meu receio é que voltemos todos à paranoia de acharmos que aquela pessoa de máscara que passou por nós na rua só pode estar contaminada com um qualquer vírus extraterrestre, trazido por uma chuva de meteoritos, cujo objetivo é a aniquilação da raça humana (não, para isso tivemos o Corona) e que, por vergonha, voltemos às nossas velhas rotinas.

E, vá, eu posso ser a primeira a declarar, sob compromisso de honra (agora que estão na moda), que, sempre que se justificar, vou usar máscara em público.

Quem se segue?

Imagem: Family and their cat during the Spanish Flu, 1918. By Unknown author - https://www.theodysseyonline.com/seek-treatment, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=89018757