O Cientista Vai Nu
A relativamente recente – mas já clássica – polémica do “afinal parece que sim” da recomendação do uso de máscara durante a pandemia, constitui, curiosamente, uma excelente razão para confiar na ciência.
Regra geral, (porque a ovelha ranhosa cria-se bem em qualquer campo) a malta da bata branca só faz recomendações com base nos dados de que dispõe na altura; o que significa que, na presença de novas informações que levem a diferentes conclusões, o cientista pode, se preciso for, contradizer-se em prol da verdade e do bem geral.
Tanto é aquilo que hoje conhecemos que pode parecer que já não há mais nada para descobrir, mas, a verdade, é que há todo um universo de mistérios por desvendar e a probabilidade de um especialista/doutor/perito aparecer na televisão a afirmar exatamente o contrário daquilo que disse meras horas/dias/semanas antes é grande – principalmente, quando o assunto são vírus acabadinhos de sair do forno.
Mas não quero com isto dizer que devemos aceitar erros grosseiros sem apontar o dedo aos culpados. Sem querer comparar um microbiologista com um super-herói: com grandes poderes vêm grandes responsabilidades e ninguém, repito, ninguém está imune à mão justa do meme. Porque a Internet dá, mas a Internet também tira.
Em conclusão, algumas contradições não só são boas como se recomendam e, em matéria de saúde pública, a sua ausência deverá sempre fazer-nos franzir o nariz como se alguém tivesse acabado de “largar um”.
Imagem: By Pi. from Leiden, Holland - Lab 15 - Lab Coats, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4477452